De 1996 a 2002, durante o governo FHC, o Brasil ficou, em média, 21 horas sem energia elétrica por ano. Sofreu um apagão que exigiu racionamento de 9 meses ao custo de empregos, investimentos abortados e perda de PIB. No governo Lula, de 2003 a 2010, embora a demanda industrial e residencial tenha crescido de forma acelerada no rastro da retomada econômica, a média de interrupção no fornecimento recuou para 17 h/ano. Não houve racionamento. O investimento em hidrelétricas voltou a ser prioridade do Estado. No momento, o Brasil constrói as três maiores usinas de energia do mundo. A mídia ofusca as diferenças entre os dois períodos para atingir diretamente a Presidenta Dilma Rousseff. A intenção é desqualificar o trabalho de quem resgatou o sistema elétrico nacional, sucateado pelo 'modo demotucano de governar' que o tornou mais frágil e dependente de termoelétricas poluentes e dispendiosas. É o jogo do morde assopra: quando o governo endurece com os sindicatos na negociação do salário mínimo e anuncia cortes no orçamento --como o de R$ 50 bi, comunicado nesta 4º feira-- afloram menções simpáticas ao perfil 'essencialmente técnico' da nova presidência, em contraposição ao ciclo Lula --'populista'. Mas na primeira oportunidade em sentido contrário, o mérito da qualificação técnica é enterrado, não sem antes ser esfolado vivo em ambiente de pouca luz e muita manipulação. É importante assimilar essa dualidade para não cair no conto do vigário dos que, dentro e fora do governo, acenam com o 'apoio dos mercados e a isenção da mídia', em troca de um acento mais ortodoxo na condução do país. A mídia na verdade mal disfarça um sonho: promover um imenso apagão que fará Lula, seu legado e a Presidenta Dilma perderem o espaço que ocupam no imaginário social enquanto referência de um modelo de desenvolvimento mais justo e progressista. Esse vazio histórico seria preenchido em 2014 pelos derrotados em 2002, 2006 e 2010. É oportuno lembrar, a uns e outros, que o povo, em todos esses escrutínios, escolheu viver num Brasil feito de crescimento, estabilidade e justiça social. As três coisas juntas. Ah, mas isso é impossível, dizem os ortodoxos. É para superar o 'impossível' que existe a política, ou os governos democráticos seriam substituídos por um comitê de especialistas em promover a 'paz dos cemitérios'.
Vejam em CARTA MAIOR (5º feira, 10/02/2011)