sábado, 21 de outubro de 2006

O momento da blogosfera

O que é a blogosfera? Inútil buscar a resposta em enciclopédias e fontes de informação tradicionais. O negócio é perguntar ao oráculo, o Google. Escrevo "define: blogosfera" no campo de busca. O oráculo diz:

Espaço virtual onde ficam todos os blogs; mundo dos bloggers.

A fonte da informação é um "Pequeno Glossário da Blogosfera". A Wikipédia traz, no artigo "blogosfera":

Blogosfera é o termo coletivo que compreende todos os weblogs (ou blogs) como uma comunidade ou rede social. Muitos blogs estão densamente interconectados; blogueiros lêem os blogs uns dos outros, criam enlaces para os mesmos, referem-se a eles na sua própria escrita, e postam comentários nos blogs uns dos outros. [...]
O conceito de blogosfera é importante para a compreensão dos blogs. Os blogs eles mesmos são, essencialmente, apenas o texto publicado dos pensamentos de um autor, enquanto a blogosfera é um fenômeno social.

A blogosfera caracteriza-se por conter páginas da Internet feitas por pessoas que manifestam seus gostos e opiniões sobre o que lhes interessa. Os blogueiros alimentam seus blogs com fotos e relatos do cotidiano, e também com material de sítios da Internet, principalmente de outros blogs. Eis o aspecto social da blogosfera. Em sentido amplo, a blogosfera é o mero agregado de blogs. Em sentido estrito, a blogosfera é mais do que um agregado, pois é uma comunidade na qual opiniões e contribuições de um blogueiro são ecoadas pelos outros.

Alguns minimizam a importância blogosfera. Dizem que a mesma é insular, sem impacto para além de si mesma. No entanto, não parece ser esse o quadro no Brasil. A campanha “Xô Sarney!”, promovida pela blogueira Alcinéa Cavalcante, é um exemplo de impacto da blogosfera do debate político. O candidato a senador José Sarney chegou a publicar no blog da Alcinéa um direito de resposta, sob determinação do Tribunal Regional Eleitoral do Amapá.

O mínimo a ser dito é que a blogosfera faz barulho, e é escutada. Talvez uma metáfora proposta por Franklin Martins possa nos ajudar a compreender como se abriu espaço para a blogosfera ser ouvida. Martins percebeu que nas eleições presidenciais de 2006 os “formadores de opinião” dizem o que dizem, mas as pessoas não reproduzem os memes por eles emitidos. Ele diz que em outros tempos aquilo que os “formadores de opinião” diziam repercutia tal como as ondas causadas por uma pedra jogada no meio de um lago. As ondas se propagavam até chegar às margens. Agora o quadro mudou. Há diques entre o centro do lago e as margens. Aquilo que vêm do centro é refletido de volta sem chegar à margem. Talvez seja isso que tenha levado alguns desses “formadores de opinião” (e as aspas se justificam no contexto atual) a uma histeria cada vez maior, a qual sem dúvida foi contraproducente.

A metáfora acima explica como a opinião pública se emancipou dos “formadores de opinião”, pessoas com espaço ou salário para escrever em páginas de opinião de uns poucos jornais. Mas não é suficiente para explicar como a blogosfera é escutada. Para explicar isso talvez o melhor seja darmos uma olhada na imagem proposta pelo blogueiro Alon. Ele tem uma teoria composta de dois elementos sobre a difusão de idéias na nossa sociedade. Primeiro, uma revisão da metáfora da pedra no lago. Segundo, uma visão sobre a capilaridade entre a Internet e o público em geral.

Na visão de Alon não há diques impedindo as opiniões emitidas no centro de chegarem às margens. Ao invés disso, o que ocorre é que estão sendo lançadas muitas pedras no lago ao mesmo tempo. Boa parte dessas pedras são bem pequenas (e-mails, postagens em blogs), mas todas juntas deixam a superfície do lago bem tumultuada.

Tal tumulto é a trama de mensagens partindo de diversas partes e chegando a diversas outras partes em um único tecido, em uma única superfície, a sociedade.

Só com isso a teoria é incompleta, pois não explica como o ruído da blogosfera e da Internet pode chegar às margens, aos sem-Internet. Aí entra o segundo elemento da teoria do Alon. Basta que em uma comunidade um garoto saiba e possa usar a Internet para que a turbulência do lago possa chegar a todos na comunidade pela comunicação oral.

A teoria do Alon tem o mérito de tratar do modo como algumas idéias ultrapassam a barreira da Internet, mas é preciso reconhecer que tal barreira existe. Recentemente, o jornal Libération utilizou a expressão “bloguesia” para se referir à parcela da população que detém conhecimentos e meios (tecnologia) para se expressar de uma maneira que ainda não está acessível a todos, e influencia a tomada de decisões através desse meio. Ainda que talvez todos possam escutar o ruído da blogosfera, ainda estamos longe de contar com todos como falantes na mesma.

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Em torno da candidatura de Yeda

Fórmula simplista de Paulo Feijó, candidato a vice-governador do RS: menos Estado = mais desenvolvimento.

Se a fórmula é pra valer, então no dia que o BNDES (o banco do desenvolvimeto) for fechado o Brasil vai explodir em crescimento.

Alguém aí se arrisca a desenvolver o raciocínio?

História no RSUrgente, charge no Blog do Kayser.

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A candidata Yeda dá de barato a fórmula para arrasar com os serviços públicos: funcionários aposentados não serão substituídos.

Sem funcionários os serviços não funcionam. Se não funcionam, aqueles que dizem que não funcionam acertam.

Isso é irresponsabilidade.

No RSUrgente.

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Você consegue imaginar Leonel Brizola e Paulo Feijó defendendo as mesmas posições?

Se sim, é provável que você tenha ótima imaginação. Se não, é provável que você lembre de alguns dos "tijolaços" do velho Briza.

RSUrgente analisa o brado "viva Leonel Brizola!" da candidata Yeda.

Briza nunca foi favorável a nenhum desses autoproclamados "novos" jeitos de governar. Seu modelo de governante, claro e explícito, sempre foi Getúlio Vargas. É bem diferente.

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Yeda cancela participação em debates.

No RSUrgente.

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Yeda propõe trazer ao RS o modelo de gestão da segurança aplicado por Alckmin em SP.

O crime organizado agradece.

No RSUrgente.

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E o candidato a vice Paulo Feijó admite que não tem nada sobre privatização no seu programa de governo, mas isso pode mudar.

Ou seja, o programa é mera tinta sobre papel.

No sítio do Olívio.

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E a candidata Yeda estava com o vice-prefeito de Porto Alegre, Eliseu Santos, quando ele manifestou desprezo pelas religiões afro.

Ela endossa a posição de Santos? Ela acha que religiões afro não são "obras de Deus"?

No RSUrgente.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

O mais espantoso mesmo...

O espantoso mesmo é a Opus Dei ter um candidato a presidente da república. Quem e o que a Opus Dei representa é o horror.

Também é espantoso que tal fato espantoso passe por algo natural.

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Outro "dossiê"

"Miguel Freitas, carioca, garimpou um bom punhado de matérias que a falha de são paulo, a revista see (como dizem os eleitores de chuChucky) e outros abaitolá$ de $inhá mídia já publicaram, tempos atrás, mas que, assim como o conteúdo do dossiê dos sanguessugas, preferem, hoje, deixar pra lá."

O Pirata nos apresenta em sua zine este bem fundamentado dossiê, com informações reunidas de várias fontes, todas citadas e lincadas (disponível em Power Point e PDF). Vai lá que é quentíssimo, e gratuito.

domingo, 15 de outubro de 2006

A cor da violência

O relatório do "Estudo das Nações Unidas sobre a Violência contra Crianças", encomendado pela ONU, aponta para o fato de 70% dos jovens entre 15 e 18 anos assassinados no Brasil serem negros. Além disso, segundo a Folha de São Paulo, "a raça também representa 70% na estimativa de 800 mil crianças brasileiras sem registro civil. Entre os indicadores negativos, os negros só perdem para a população indígena na taxa de mortalidade infantil".

A violência, como fica confirmado mais uma vez, tem uma triste vinculação com os indicadores de desenvolvimento humano. Cruzando estes novos dados com os números de 2005 do PNUD, que informam que 64% da população negra vive na pobreza e que, dentre os 10% mais pobres da população brasileira, 71% são negros, não se pode pensar que é mera coincidência o fato desta população protagonizar a maior parte dos casos de violência do País. Excluídos da cidadania, sem perspectivas de estudo e trabalho, jovens de periferia são os indivíduos mais expostos à criminalidade, qualquer que seja o seu "papel" nos ciclos da violência.

Este massacre racial, assim caracterizado não só em razão da cifra absurda de homicídios que vitimam negros, mas também por uma cultura discriminatória que exclui milhões de brasileiros da cidadania, não gera tamanha comoção como a queda de um avião. É para o que alerta Cenise Monte Vicente, coordenadora do Escritório do Unicef em São Paulo: "Se somarmos as 14 mortes por dia, é mais de um Boeing a cada duas semanas, sendo a maioria formada por negros [...] É importante investigar as causas da tragédia do Boeing. Mas em relação a essas mortes [de jovens e negros], a gente não tem a mesma atitude e vigilância. Alguma coisa está errada."