sábado, 14 de outubro de 2006

Pietà


Today in Iraq nos traz a foto (acima) do corpo de uma garota de 8 anos, morta em um bombardeio estadunidense, sendo preparado para o funeral.

Os estadunidenses e ingleses suficientemente sofisticados para racionalizar perdas como a vida dessa garota de 8 anos deveriam ser, da mesma forma, igualmente sofisticados para reconhecer que, na cultura ocidental, a dor dos pais e parentes da garota morta é da mesma natureza da dor daquela que os devotos tratam como mãe e virgem ao mesmo tempo.

No fundo do que há de melhor na cultura ocidental há, entre outras coisas, a figuração da dor dessa mãe-virgem. Seu filho, o próprio Deus encarnado, é cadáver nessa representação.

O próprio Deus, cadáver, morto pelos homens, no colo da sua virgem mãe.

Se mortes como a da garota da foto não dizem nada para estadunidenses e ingleses, só posso achar que aquilo pelo que eles lutam é algum tipo de barbárie estranha. Se, do ponto de vista deles, tal morte não lhes diz respeito, só posso concluir que eles vivem em um mundo moral muito distante daquele fundamental para a cultura cristã-européia.

Se nessa história toda há alguém ameaçando a civilização européia, certamente não são aqueles com o raro privilégio e triste azar, nos últimos tempos, de viver num dos berços da mesma, entre os rios Tigre e Eufrates.

O neo gauchismo

Ou a síndrome do centauro invertido, onde por mutação genética, ou por simples derivação, maiores índices de fertilidade e manejo direcionado, o antigo “centauro das coxilhas” vem sendo substituído e superado em número pelo neo centauro, que hoje tem corpo de homem, ou mulher, e cabeça de cavalo, ou égua [...] Siga lendo.

quinta-feira, 12 de outubro de 2006

Uma Vale por dois YouTubes

NMM trata da "aposentadoria política" de Delfim Netto, ou melhor, da sua derrota nas últimas eleições.

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Cocadaboa não entende como pode a Vale do Rio Doce, uma empresa gigante da mineração, pode ter sido vendida por FHC por meros 3,3 bilhões de reais, troco suficiente para comprar apenas duas vezes o YouTube, um sítio de vídeos adolescentes com 90% de conteúdo pirata.

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E o chefe do exército britânico disse que chegou a hora deles caírem fora do Iraque. Notícia no Guardian e no Financial Times.

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Rafael Correa, candidato a presidente da esquerda Equatoriana, alerta para o risco de fraude na eleição de domingo. Notícia no 20 Minutos.

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RSUrgente
acusa negligência da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do RS no caso do último desastre ecológico no Rio dos Sinos.

Os eufemismos da Fiergs e mais

O Diário Gauche apresenta os eufemismos e tergiversações da Fiergs na hora de afirmar com todas as letras que defende privatizações.

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Global Voices Online
diz que Israel está usando na Palestina, além das armas que matam, armas que mutilam permanentemente. Common Dreams relata que está estourando uma guerra civil na Faixa de Gaza.

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CUT diz que Alckmin é mais do velho e ruim FHC. RSUrgente diz que gastos de Alckmin com deslocamentos no governo de SP são maiores do que o valor do avião presidencial, e que sua vontade de vender o avião da previdência é só mais uma face do seu desejo de vender o patrimônio público.

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Tupiniquim
relata que milhares de pessoas se manifestaram hoje a favor dos índios mapuche em Santiago do Chile.

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CMI Brasil
relata que várias famílias sem-teto ocuparam um prédio no Rio de Janeiro.

quarta-feira, 11 de outubro de 2006

"Bye bye" - Alckmin tirando o corpo fora


Eis o que acontece quando o candidato que se diz ético e transparente tem que falar com uma imprensa de verdade. As perguntas pra valer vêem e ele tira o corpo fora. Diz "bye bye". Reclama que não era o combinado. Mas era o combinado. Só que para a repórter inglesa "combinado" não significa mera e simples propaganda. Significa uma pauta jornalística séria.

O vídeo acima mostra duas coisas. Primeiro, que Alckmin não assume responsabilidades. Segundo, que nossa grande imprensa está podre. Que outra resposta para a carência de tal tipo de questionamento nos nossos jornalões?

Com a palavra Alckmin, Folha, Estadão, Zero Hora etc.

Ensino superior: compatativo Lula x FHC

Do Bué de Bocas:

Durante os 8 anos de FHC/PSDB, as Universidades Públicas Federais foram sucateadas, o orçamento encolheu, os docentes e técnicos administrativos tiveram seus salários desvalorizados. Em quatro anos, o governo Lula retomou os investimentos e a valorização das Universidades Federais.

Desde 2004, o programa já criou 10 novas Universidades Federais e implantou ou consolidou 48 campi universitários, em todas as regiões do país, um crescimento de 24,65 % no número de IFES.

Bush chegou a 0,1 Hitler no Iraque

Vamos construir uma escala. Como Hitler chacinou 6 milhões de judeus, o genocida que chacine 6 milhões de seres humanos chega a 1 Hitler.

O Iraque está sob a autoridade dos EUA. Se há genocídio por lá, e há, a responsabilidade é dos EUA.

No Iraque sob autoridade dos EUA morreram 650 mil iraquianos por causa da invasão estadunidense. Uns 50 mil por doenças, uns 600 mil violentamente.

600 mil é 10% de 6 milhões. Bush chegou a 0,1 na escala Hitler.

(Bolação do Gustavo.)

terça-feira, 10 de outubro de 2006

O bad boy de butique no seu habitat

Imagem no Diário Vermelho.

Modernidade, estilo elite paulista, gaúcha etc.

No Diário Gauche:

Ora, não é nenhuma novidade num país em processo de escolha eleitoral ficar dividido. É natural e desejável, para o bem da democracia republicana que buscamos. O que espanta na boca de um professor que já foi qualificado de “príncipe dos sociólogos brasileiros” (sempre que eu escuto isso, não sei por quê, lembro do Clóvis Bornay com suas fantasias principescas no Carnaval do Hotel Glória, no Rio), é o fato de classificar arbitrariamente o “moderno” e o “atrasado”. Para o “príncipe” (no sentido de Bornay, não de Maquiavel) Cardoso, ele e seus pupilos tucanos-pefelês é que são modernos, e mais todos os eleitores alckmistas. Os “atrasados” são os eleitores do presidente Lula. A Folha, conservador jornal da família Frias de São Paulo, chegou a fazer uma matéria praticamente sugerindo o retorno do voto censitário ao País, mecanismo excludente proposto por outorga imperial de Pedro I na Constituição de 1824. Vejam o grau de regressismo a que chegamos! Os “mudernos” são regressistas – é o que acaba se concluindo, hoje no Brasil.

A elite rude

Para o blogueiro boz, Alckmin se arrisca a perder votos ao ser rude com uma pessoa querida pelo povo como o presidente Lula.

A elite brasileira é rude, e está nua. Iagê apresenta bem o quadro:

[...] O preconceito está literalmente colado a alguns indivíduos. Não bastasse a histórica e asquerosa birra direitista com a educação de Lula, recorrentemente desqualificado e menosprezado por sua origem operária, a tática agora é ainda mais leviana: ofensa em razão de uma deficiência física. A mão com quatro dedos, atravessada por uma faixa vermelha em sinal de proibição, denota a verdadeira natureza de uma direita que se intitula tão democrática e ética. É sintoma de puro desespero, levando ao abandono da disputa política.

Assim como Geraldo, o Alckmin, fez no debate da Bandeirantes, esquivando-se da discussão programática e partindo para um fuzilamento de munição dita "ética", os militantes tucanos (ao menos no Rio Grande do Sul, pois não sei se isso se repete no resto do País), estão se valendo de subterfúgios tão virulentos quanto os de seu candidato. O rótulo que desde 1989 tentaram colar a Lula - que sua formação intelectual era deficitária, já que vinha de uma classe popular e de emprego menos glamouroso - aparece agora em versão ainda mais hedionda. Tanto se cobra moralidade da campanha eleitoral e ética da política, mas nada se vê partindo destes paladinos para barrar preconceitos desta ordem, que não ofendem apenas ao Presidente da República, mas a qualquer um que enxergue o mínimo de dignidade em um ser humano.

A "raça a ser extinta", como convocou o senador nazi do PFL, Jorge Bornhausen, na figura de Lula, causa tamanho incômodo às elites que, no desespero e abstinência do poder sobre o Brasil, acabam desnudando seu caráter. Ou melhor, desnudam-se por inteiro, mostrando sua falta de caráter. A falta de capacidade e de autoridade moral e política para enfrentar diversos avanços notórios deste governo, cujo exemplo máximo me parece ser a transferência de renda, que atingiu dimensões jamais imaginadas neste País, faz com que o tucanato e todos outros pássaros que freqüentam esta árvore torta à direita e de raízes contaminadas por uma sede de opressão, apelem a táticas repugnantes, permeadas por preconceitos de classe, físico, racial e ideológico.[...]

Razões de R.J. Ribeiro para votar em Lula

O artigo abaixo saiu na Folha de São Paulo no dia 1/10/2006. É dica do Rogério S.

POR QUE VOTO EM LULA

Democracia é maior que qualquer um de nós

RENATO JANINE RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Eleição não é luta do bem com o mal. É comparação. Voto em Lula porque, a meu ver, seu governo melhorou o Brasil. Ele recebeu o país com uma agenda ditada pela direita, que reduzia quase tudo à política econômica, ou pior, à monetária e à fiscal; um país que, no fim de 2001, não cumpria mais o Orçamento, sem dinheiro nem para pagar passagens de ministros, com o dólar a R$ 4 e um risco-Brasil enorme. Ora, o governo de centro-esquerda foi capaz de acalmar a economia, de baixar o risco, de aumentar as exportações, enfim, de cumprir uma agenda econômica que não era sua prioridade, nem a dos movimentos populares, e isso sem privatizar nada, sem desfazer o patrimônio público.

Mais, ainda: Lula colocou na política brasileira, de modo definitivo, uma agenda social importante. E com êxito. Segundo Maria Inês Nassif ("Valor Econômico", 24/8), o maior rigor em programas como o Bolsa-Família e os do Ministério das Cidades "desintermediou o voto da população pobre, que antes passava pelo chefe local". Se isso é certo, não há paternalismo na atual política de promoção social. Não adianta ficar inventando que Lula se proclamou "pai dos pobres". Alguns jornalistas dizem isso, mas nunca informam quando o presidente teria usado uma linguagem tão contrária a suas crenças para se referir a si próprio. Tudo indica que há menos paternalismo agora do que antes.

É engraçado: quando se banhava de dinheiro o grande capital (empréstimos do BNDES a juros baixos para privatizar estatais), a opinião dominante chamava isso de progresso, mas, quando se dá dinheiro aos mais pobres, para comerem e se vestirem melhor, a mesma opinião dominante entende que dinheiro nas mãos de pobres não presta.

Discordo disso.

Quero uma sociedade democrática. Isso significa, em primeiro lugar, o fim da miséria, a redução da desigualdade social.

No horizonte político brasileiro, não vejo força melhor que a coligação de esquerda para promover esse salto qualitativo. Ela tem sido capaz de melhorar as condições sociais com uma temperatura baixa de conflitos, ao contrário do que diziam seus detratores.

O país não pegou fogo. O saldo do governo é positivo: a questão social está sendo bem orientada.

Agora vamos à questão ética.

No governo atual o procurador-geral não engaveta processos, a Polícia Federal age, CPIs funcionam. Já seu principal adversário impediu 60 CPIs de funcionar na Assembléia paulista, deixou uma política de segurança prepotente e ineficaz (porque acabamos sob o domínio do PCC) e uma política de educação que não é das melhores. Eleição é comparação. Não vejo no governo Alckmin superioridade ética sobre o governo Lula.

Contudo, há satisfações que o PT deve à sociedade. Os escândalos mostram que ele é um partido mais "normal" do que imaginava ser. Humildade não faz mal. O PT tem seus defeitos. Deve contas ao Brasil. Tem de fazer uma faxina interna e punir quem errou. Mas, ainda assim, consegue governar melhor que os outros. Aliás, seria bom o país todo fazer um exame de consciência. Com o financiamento privado de eleições, a porta se escancara para a negociata. Deveríamos priorizar em 2007 a reforma política, com fidelidade partidária, condições mais equilibradas de financiamento às candidaturas e talvez até o voto distrital.

Uma eleição não é uma guerra. Amanhã e sempre, teremos de conviver, quem votou em Lula ou nos outros candidatos.

Precisa cessar o terror discursivo, a ameaça ao voto universal. Este é o segundo ponto em que desejo uma sociedade democrática. Democracia significa respeitar o discurso do outro. Nas eleições, as pessoas se exaltam, mas é desonesto deformar o que o outro disse.

Muito do que hoje se conta sobre o PT ou sobre quem o apóia, como eu, é uma enorme caricatura. Isso amesquinha a política, que deve ser arena de adversários, não de inimigos.

Esse clima envenenado não ajuda o de que mais precisamos, não nós da esquerda, mas nós brasileiros: construir alianças, trabalho em conjunto, convergências. A sociedade é maior que a política. O Brasil é maior que os partidos. A pequena ambição não pode erodir nossas oportunidades.

Podemos enfrentar a miséria, melhorar a educação e a saúde, integrar os excluídos. Penso que Lula é o mais adequado, hoje, para dirigir o governo neste rumo mas penso também que este tem de ser um projeto de sociedade, e não apenas de governo. Não estamos, hoje, terceirizando a solução de nossos problemas. Estamos elegendo o mais apto a dirigir um esforço que deve ser maior do que ele e do que qualquer um de nós.


RENATO JANINE RIBEIRO , professor de ética e filosofia política na USP, é diretor de avaliação da Capes e autor de, entre outras obras, "A Sociedade Contra o Social - O Alto Custo da Vida Pública no Brasil" (Companhia das Letras)

domingo, 8 de outubro de 2006

Bolsa Família e sociabilidade

Essas melhorias [na alimentação] tiveram outras conseqüências na vida das famílias. Um expressivo percentual de [beneficiários] entrevistados (41,6%) afirmou que a maneira como suas famílias eram tratadas no local de moradia mudou para melhor após o ingresso no programa. Este dado, segundo os pesquisadores, aponta para dois aspectos positivos: em primeiro lugar, para uma maior possibilidade de estas famílias avançarem na direção da construção de redes locais de sociabilidade; em segundo, para uma melhora na própria auto-estima dos núcleos familiares, um elemento fundamental para a construção de estratégias voltadas para a saída da situação de extrema pobreza.
-- Marco Weissheimer, Bolsa Família, pp. 97-98

Para os pobres o Brasil cresce como a China

Na avaliação do pesquisador Sergei Soares, do IPEA, [...] para se ter uma idéia do que essa queda [da desigualdade social entre 2001 e 2004] significa, é importante assinalar que os 30% mais ricos perderam renda e os 20% mais pobres estão ganhando a uma taxa de quase 7% ao ano. Ou seja, acrescenta o pesquisador, para a população mais pobre, é como se estivesse morando na China, cuja economia está crescendo a essa velocidade.
-- Marco Weissheimer, Bolsa Família, p. 82