domingo, 15 de outubro de 2006

A cor da violência

O relatório do "Estudo das Nações Unidas sobre a Violência contra Crianças", encomendado pela ONU, aponta para o fato de 70% dos jovens entre 15 e 18 anos assassinados no Brasil serem negros. Além disso, segundo a Folha de São Paulo, "a raça também representa 70% na estimativa de 800 mil crianças brasileiras sem registro civil. Entre os indicadores negativos, os negros só perdem para a população indígena na taxa de mortalidade infantil".

A violência, como fica confirmado mais uma vez, tem uma triste vinculação com os indicadores de desenvolvimento humano. Cruzando estes novos dados com os números de 2005 do PNUD, que informam que 64% da população negra vive na pobreza e que, dentre os 10% mais pobres da população brasileira, 71% são negros, não se pode pensar que é mera coincidência o fato desta população protagonizar a maior parte dos casos de violência do País. Excluídos da cidadania, sem perspectivas de estudo e trabalho, jovens de periferia são os indivíduos mais expostos à criminalidade, qualquer que seja o seu "papel" nos ciclos da violência.

Este massacre racial, assim caracterizado não só em razão da cifra absurda de homicídios que vitimam negros, mas também por uma cultura discriminatória que exclui milhões de brasileiros da cidadania, não gera tamanha comoção como a queda de um avião. É para o que alerta Cenise Monte Vicente, coordenadora do Escritório do Unicef em São Paulo: "Se somarmos as 14 mortes por dia, é mais de um Boeing a cada duas semanas, sendo a maioria formada por negros [...] É importante investigar as causas da tragédia do Boeing. Mas em relação a essas mortes [de jovens e negros], a gente não tem a mesma atitude e vigilância. Alguma coisa está errada."

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