sábado, 15 de março de 2014

"Trajetória exemplar"



Por André Singer*

Alguns dados biográficos do líder do PMDB, Eduardo Cunha, ajudam a entender a lavada, de 267 a 28, que o governo levou na votação da última terça-feira, quando a Câmara decidiu criar comissão para investigar a Petrobras.

Mais de um ano atrás, Janio de Freitas, referência do jornalismo político brasileiro, já advertia que, com a presença de Cunha junto a Renan Calheiros e Henrique Alves no comando do Congresso, Dilma iria ter dificuldades. Na época, o jornalista lembrava que Cunha “é cria de Paulo César Farias, que o pinçou do vácuo para a presidência da então Telerj, telefônica do Rio”. Corria o ano de 1990. Não demoraria muito para que o mandato de Fernando Collor de Mello fosse tragado por denúncias. No epicentro da debacle collorida estava PC Farias.

Consta que Cunha aproximou-se do meio evangélico do Rio de Janeiro. Filiado ao PPB (hoje PP), de Paulo Maluf, e com apoio religioso, candidatou-se a deputado estadual em 1994, iniciando uma carreira política própria, o que o levou a ser eleito para a Assembleia Legislativa daquele Estado em 2000, galgando daí a passagem para a Câmara dos Deputados em 2002, sempre pela agremiação malufista.

No meio desse caminho, alinhado à direita, nem por isso deixou de participar do governo Garotinho (1999-2002), então no PDT, no Estado do Rio. No entanto, as relações entre ambos depois se deterioraram. Por ocasião da MP dos Portos, alguns meses atrás, os dois ex-colegas de administração travaram carinhoso diálogo no plenário da Câmara, segundo relato de Merval Pereira, de “O Globo”. O ex-governador do Rio disse que a emenda patrocinada por Cunha cheirava mal e tinha motivações escusas. Em resposta, o ex-auxiliar teria se referido a Garotinho como batedor de carteira.

Em 2006, Cunha reelegeu-se deputado federal, agora pelo PMDB, sempre com apoio evangélico — em 2010, conseguiu 150 mil votos. A disputa entre Cunha e Dilma vem desde o início do mandato desta, quando, após denúncias em Furnas envolvendo, segundo o “Valor” (25/7/2011), um “grupo ligado” ao deputado, ela nomeou para dirigir a estatal nome fora do círculo de influência do parlamentar carioca.

Em 2007, Cunha havia segurado a Medida Provisória que prorrogava a CPMF até Lula nomear indicação sua para a presidência de Furnas. Maior empresa da Eletrobras, com orçamento bilionário e fundo de pensão importante, Furnas é joia muito cobiçada. A perda do controle sobre a estatal explicaria a posição belicosa do comandante do PMDB na Câmara em relação a Dilma.

Em resumo, é quase um quarto de século de experiência acumulada em controvertidas matérias republicanas. Convém não subestimar.

*André Singer é jornalista, professor e cientista político.


**Fonte: jornal  Folha de São Paulo - com o sítio Viomundo e http://o-boqueirao.blogspot.com.br/

Um comentário:

Anônimo disse...

"Hoje o mensaleiro corrupto José Dirceu completou 68 anos. No lugar onde deveria estar. Na cadeia. Seus amigos e parentes gravaram vídeos para serem levados para ele, além de mensagens. Franklin Martins redigiu um texto assustador, tendo em vista o seu passado de terrorista e sequestrador. Leiam:

"mais cedo ou mais tarde, a verdade prevalecerá. Quem julgou sem justiça e condenou sem razão, também será julgado e condenado um dia."

Há na frase uma nítida ameaça aos ministros do STF e a confissão de que existe, em andamento, um projeto para dissolver o Supremo Tribunal Federal, cujos ministros são vitalícios, o que consiste em claro ataque à ordem constitucional. O que o STF julgou não tem retorno, a não ser com um golpe de estado. Ninguém pode pregar que um ministro do Supremo será julgado e condenado, a não ser que defenda o fim do Estado de Direito.

Franklin Martins, em 1969, integrou o grupo da Ação Libertadora Nacional e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro que cometeu o crime hediondo de sequestro do embaixador americano Charles B. Elbrick. Foi ele que redigiu o manifesto lido à Nação, onde fazia a seguinte ameaça:

"A ditadura tem 48 horas para responder publicamente se aceita ou rejeita nossa proposta. Se a resposta for positiva, divulgaremos a lista dos quinze líderes revolucionários e esperaremos 24 horas por seu transporte para um país seguro. Se a resposta for negativa, ou se não houver resposta nesse prazo, o sr. Burke Elbrick será justiçado."

Os militares libertaram os quinze presos, entre os quais José Dirceu. Anos depois, Dirceu está preso pelos seus crimes. Franklin Martins, que ameaça ministros do STF, vai coordenar a campanha de Dilma Rousseff. É assustador. "