quarta-feira, 20 de maio de 2015

O caso Araceli

Na manhã de 18 de maio de 1973, uma sexta-feira, Araceli Cabrera Crespo foi à escola como sempre fazia. Feliz: levava na mochila um bilhete da mãe à professora, pedindo que saísse mais cedo da aula. Sua tarefa era apenas entregar um envelope lacrado num edifício de Vitória. Faltava pouco mais de um mês para o seu aniversário de nove anos. Criança simples, sorridente, ela adorava sua boneca de cabelinhos claros repartidos ao meio, imitação barata da Barbie que não podia ter. Ela e Carlinhos formavam o casal de filhos do eletricista Gabriel e da boliviana Lola, moradores de uma casa modesta em Serra (ES).
O Brasil dos generais, ao som dos Secos&Molhados e dos motores de Fittipaldi, comemorava o “milagre econômico”. O governo Médici agia com mão pesada contra os opositores, mas não exatamente contra bandidos. O tráfico de drogas entrava no país com todo seu aparato: crime organizado, gente importante, corrupção. Araceli nem sonhava com isto. Ela sonhava com brinquedos. Porém naquela manhã, aos oito anos, todos os seus sonhos foram interrompidos. Ela não sabia, mas o envelope da mãe tinha drogas. Ao chegar no prédio, um grupo de rapazes de famílias ricas e importantes da capital, conhecidos por suas orgias regadas a cocaína e LSD, não deixou a menina ir embora. E Araceli foi espancada, dopada, torturada, estuprada e morta. Seu corpo tinha marcas de dentadas nos seios e vagina. A perícia constatou que ela foi asfixiada. Queimada. Quebraram seu queixo com socos. Seu corpo foi desfigurado, ficou dois dias no freezer do bar de um viciado e, depois, foi jogado num matagal com ácido para dificultar sua identificação.



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Um comentário:

José Elesbán disse...

A culpa não é do FHC, nem da Yeda, mas mostra como pode ser a impunidade no Brasil, mesmo no tempo de quem tinha mão forte para reprimir a oposição.