O cárcere
Por Fernando Brito*
A entrevista de José Dirceu à Folha {de
São Paulo}, na iminência de ser, outra vez, recolhido ao cárcere de
Curitiba, é leitura que vai muito além da narrativa simples e despojada,
sem afetações heroicas ou dramáticas que faz. Remeteu-me à leitura,
décadas atrás, de Memórias do Cárcere,
de Graciliano Ramos, um documento cru – e, por isso, vigoroso –
narrando o processo de desconstrução do ser humano que é aprisionado e
que, no único convívio que se lhe permite – o da prisão – reconstrói e
mantém vivo o ser humano que é.
Não tenho – e jamais o escondi – maiores proximidades com Dirceu. É, e
sempre foi, homem da máquina partidária, algo indispensável na política
mas, por características pessoais, distante dos que têm natureza
passional e temerária. O que não impede, e até ajuda, a admirar quem
consegue, com a simplicidade que o ex-homem forte do PT revela, buscar
na disciplina a escada para reerguer-se.
Quem espera encontrar nas palavras de José Dirceu um panfleto fácil, choroso, lamuriento, vai se decepcionar. Também não vai achar ali um compêndio de moral vazia. Encontrará o realismo prático de sobrevivência do militante político – nisso bem diferente do velho Graça – diante
de situações e pessoas diversas, boas e ruins, num microcosmo que,
afinal, reproduz, de forma concentrada, a sociedade extra-cárcere.
Dirceu exprime, o que é raro, a obstinada deliberação em seguir a
caminhada política que escolheu como razão de sua vida. Uma trilha que
cadeia alguma jamais conseguiu interromper.
Dirceu: “nosso lado é o lado do povo, o lado do Brasil”.
O
ex-ministro José Dirceu, 72, teve seus recursos negados na quinta (19)
pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região e pode ser preso a qualquer
momento por ordem do juiz Sergio Moro.
Por seus próprios cálculos, ele pode entrar na cadeia para não sair nunca mais. “É uma hipótese”, admite.
Com
uma “tosse nervosa” e os olhos inchados por causa de uma operação que
fez nas pálpebras —entre outras coisas, para enfrentar a fraca luz da
prisão e manter o hábito da leitura—, ele recebeu a Folha um dia antes do julgamento para a seguinte entrevista.
Folha – Como o senhor se sente hoje, prestes a ser preso de novo?
Dirceu – O
país vive uma situação de insegurança e instabilidade jurídica, de
violação dos direitos e garantias individuais. O aparato judicial
policial se transformou em polícia política.
Como
a minha vida é o PT e o projeto que o Lula lidera, eu tenho que me
preparar para continuar fazendo política. Eu não posso me render ao fato
de que vou ser preso. (...)
CLIQUE AQUI para ler na íntegra.
Um comentário:
Fala povo, mas vive se locupletando com o dinheiro que roubou dest emesmo povo.
Postar um comentário