domingo, 1 de junho de 2008

A complexidade do racismo brasileiro

Ao resenhar “O Presidente Negro”, de Monteiro Lobato1, Alcino Leite Neto formula a dúvida diante do racismo expresso no texto: de quem é a fala, de Lobato ou dos protagonistas? Em outras palavras, a questão crucial que ele levanta, e que não é tão datada quanto a obra de Lobato, é: onde mora o racismo?

Sobre o livro resenhado, o próprio Lobato escreveu a seu amigo Godofredo Rangel: “Sabe o que ando gestando? Uma idéia-mãe! Um romance americano isto é, editável nos Estados Unidos”. Não eram idéias que ele pensaria em apresentar no Brasil, embora o tenha feito. Com a obra, ele pretendia impactar o mercado norte-americano, lançando lá a sua editora Tupy Company.

Trata-se de uma ficção científica fracassada, escrita à moda de H. G. Wells e “romanceando” idéias racistas de francês Gustave Le Bon. Bem antes dessa data (1926), e depois dela, Lobato jamais expressou aquelas idéias para valer, o que faz do seu “racismo” nessa obra uma impostação literária. E, diante do fracasso editorial, escreveu: “Errei vindo cá (EUA) tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros”.

É muito freqüente tomar o racismo como um pensamento homogêneo, chapado num mesmo plano em nossa história intelectual, visto que é fácil explicar a sua gênese numa sociedade escravista -onde só existem “dois lados”-, mas difícil seguir a sua dissimulação numa ideologia “igualitária”, como a “nação mestiça” Mas se pudermos tomá-lo apenas como um rótulo que esconde diferentes posições políticas e argumentos selecionistas, será possível vê-lo se esgarçando, até sumir da vista sem desaparecer2.

O texto continua na revista eletrônica Trópico.


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