E o tema não é nada simples. Anabel explica que as relações entre o narcotráfico e o Estado mexicano guardam raízes nos anos 1970. Na época, o governo já tinha acordos tácitos com os chefões da droga. A grande diferença em relação aos dias de hoje, no entanto, é que havia total controle das instituições estatais sobre os cartéis. "O governo era uma autoridade inconteste sobre os traficantes e lhes dizia o que podiam e não podiam fazer. O Estado tinha forças para impor suas regras", conta.
Entretanto, o cenário começou a mudar na década de oitenta, com a introdução da cocaína – sempre ela – no mercado mexicano. "Quando se tratava somente da maconha, os narcotraficantes não tinham tanto poderio", diz Anabel. Não é difícil entender. A maconha é mais difícil de transportar: ocupa mais espaço, pesa mais e tem que ser vendida em grandes quantidades para que ofereça ganhos significativos. Por outro lado, a cocaína é leve e cara. Grandes carregamentos chegam a valer milhões de dólares.
"Os colombianos dos cartéis de Cáli e Medelín se associaram aos traficantes mexicanos para levar cocaína ao mercado norte-americano", explica Anabel Hernández. Os sul-americanos queriam explorar a imensa e desértica fronteira que existe entre México e Estados Unidos, uma vez que as rotas que costumeiramente utilizavam, passando pelo Caribe, eram cada vez mais conhecidas pelas autoridades. "Os traficantes começam a concentrar grande poder econômico no país. A conexão com os colombianos fez com que os cartéis mexicanos tivessem uma visão mais ampla do tráfico, que começou a ser encarado como um grande negócio".
Segundo Anabel, a CIA também desempenhou um importante papel no processo de fortalecimento dos chefões mexicanos da droga nos anos oitenta. Para incrementar o apoio que prestava aos contras – grupo que lutava nas selvas nicaraguenses para derrubar o governo sandinista –, a agência de inteligência estadunidense teria feito um pacto com os traficantes: "Fariam vista grossa ao transporte de droga aos Estados Unidos se os cartéis ajudassem a financiar a contrarrevolução na Nicarágua. Há documentos desclassificados aos quais tive acesso que comprovam esta relação".
O texto completo está no Opera Mundi.
Um comentário:
Tragédia Mexicana.
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