Há algo de inusitado no comportamento de certos setores da imprensa brasileira em relação às manifestações contra a corrupção: saíram do apoio em matérias e editoriais para, suprema ousadia, dirigi-las desde as redações. Apelando às chamadas "redes sociais", sonham com massas sublevadas entoando slogans que reafirmem a sua pauta conversadora, com destaque para o voto distrital.
Em que pese o raquitismo das manifestações, as manchetes de alguns jornais e de certa revista semanal remetem-nos a um mundo parecido com aquele da Praça Tahir, no Cairo, nos dias que precederam à queda do ditador Hosni Mubarak. Tudo se passa como se o país estivesse ruindo e uma nova ordem prestes a emergir. Obviamente, não descarto a possibilidade de que parcelas da população se deixem seduzir pelo canto da sereia e, em um futuro próximo, tomem as ruas e praças das grandes cidades brasileiras com antigas bandeiras da UDN nas mãos. Não parece ser essa a possibilidade mais forte, no entanto.
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