Quando pequeno, eu sabia me esconder dentro da chuva. Trancava-me com força dentro das gotas que juntas formavam aquela cortina de coisa limpa e viva, aquele choro de alegria que o céu derramava quase raramente. Como água caindo do céu era coisa difícil pelas bandas da minha vida, eu geralmente precisava inventar esconderijos diversos: dentro das coisas velhas que meu avô mantinha num depósito com cheiro de metal enferrujado e tristeza de rato faminto, dentro dos gritos da minha mãe, mais dentro ainda, e perdido, no amor também da mãe que não sabia usar sua liberdade para encontrar a minha.
Passava o ano inteiro esperando pela chuva, para encontrar a porta daquela outra vida que me recebia tão bem. Eu me escondia secretamente no barulho dela. Se a chuva durasse dois dias, por dois dias, todos de casa ficavam malucos procurando minha presença, aquela coisa pequena que ria de tudo e só sabia ficar quieto e obedecendo, de cabeça erguida, com os olhos dentro dos olhos do céu, com a boca aberta, escondendo a vida da chuva dentro do que eu queria que em mim fosse vida nova.
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Sexta-feira no Blogoleone.
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