A insatisfação desprovida de
agenda, liderança e capacidade de negociação -que implica hierarquizar,
exigir e transigir, conforme as circunstâncias- leva à revolta
desordenada que se desespera com o paradoxo de sua própria força. Uma
força descomunal que gira em falso e se exaure. O chão achatado pelo
peso da inconsequência estratégica é o campo fértil da regressividade
social e política. Nenhuma sociedade admite se transformar em um
parafuso espanado, à mercê da incerteza paralisante. O PT e os partidos à
esquerda do PT talvez ainda tenham condições de definir uma agenda
progressista para a estupenda energia liberada pelas explosões de
protestos que varrem o país há 13 dias. Talvez. Mas para isso precisam
vencer uma rejeição mútua e autodestrutiva, que não é propriamente
novidade na história da esquerda mundial. Na Alemanha, nos anos 20, essa
negociação não se deu. No Chile, em 1973, ela tampouco aconteceu. Na
Espanha de 2011, idem. Os resultados são conhecidos. O Brasil não é a
Alemanha de Weimar, nem o Chile de Allende ou a Espanha do PP, onde o
neofranquismo ascendeu à sorrelfa dos indignados que coalhavam a Praça
do Sol. Mas o Brasil está vivendo um movimento de massas vigoroso e
espontâneo. Que se espalha magistralmente sem que as forças de esquerda
disponham, sequer, de um fórum para avaliar um denominador de propostas
críveis, capaz de transformá-lo na alavanca reordenadora de um processo
de desenvolvimento que vive o seu ponto de mutação. Ou alguém acha que
basta revogar centavos de tarifa e a pasta de dente gentilmente voltará
ao tubo? Se as forças democráticas, lideradas pelos partidos de esquerda
e as organizações progressistas, não tiverem a capacidade de construir
as linhas de passagem para um novo ciclo, com um salto de democracia
participativa e metas de qualidade para a dimensão pública da vida,
alguém o fará. Na direção oposta à da democracia social que o país luta
por construir desde o fim da ditadura militar e antes dela. Todo o
dispositivo conservador opera febrilmente no sentido de desqualificar a
capacidade progressista de conduzir o passo seguinte da economia e da
sociedade. O projeto que pretendem recuperar é sabido. Talvez ainda haja
tempo de evitá-lo. Há muito a se perder e muito a se ganhar na roleta
dos dias que correm. O bonde da história está passando. E a esquerda não
é a única a disputar a vaga do motorneiro.
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