Seis anos atrás, quando Daniele de Araújo descobriu que estava grávida, saiu afoita pela viela suja de sua modesta casa em um dos morros do Rio de Janeiro. A área é controlada por traficantes de drogas e ela subia a passos largos. Daniele precisava alcançar um lugar cuja magnitude pudesse fazer ecoar alto e claramente seu pedido a Deus: que lhe desse uma menina, saudável, mas acima de tudo branca.
Daniele sabe sobre os efeitos da genética: tem uma mãe branca e um pai negro, irmãs que podem passar por brancas e um irmão de pele escura como ela. “Sou realmente negra”, diz. Seu marido, Jonatas dos Prazeres, também tem pais das raças branca e negra, mas sua pele é clara. Quando se apresentou para o serviço militar o oficial escreveu no formulário: branco.
E quando seu bebê nasceu, o olhar de Daniele foi de alívio: a pequena Sarah Ashley era rosa como os lençóis que a envolviam. Melhor ainda, ao crescer, ficou claro que Sarah tinha cabelos lisos e não “cabelo ruim” – como são universalmente chamados, no Brasil, os cabelos encaracolados dos negros.
Hoje, Sarah Ashley tem cachos morenos caindo sobre suas pequenas costas e que são a grande alegria na vida de sua mãe. O tom de pele da pequena está entre os tons de pele de seus pais – mas clara o suficiente para que a registrassem como branca, exatamente como esperavam. (Muitos documentos oficiais no Brasil perguntam sobre “raça ou cor”, junto com outras informações básicas de identificação).
Um comentário:
Pigmentocracia...
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