quarta-feira, 2 de maio de 2018

Lula, o fascismo e a esperança

Página 12


Não há eufemismos banais: o Brasil mostra nestas horas o pior e mais descarnado fascismo contemporâneo. Tirar o Lula da disputa presidencial, e colocá-lo preso, é uma decisão do fascismo brasileiro.

Começa pela mídia corporativa -que na realidade são uníssonos em sua missão de enganar- infetou-se a absurda condenação e veloz prisão. Sem nenhuma prova, nenhuma, de que o ex-presidente brasileiro haja cometido ilícito algum.

Carece de importância o departamento em suposto pagamento de uma suposta propina, que nem sequer é delito provado mas sim apenas "convicção" de um juiz midiático a serviço da Rede Globo. Pode ser um Rolls Royce dado rainha da Inglaterra, ou uma paquera com Natalia Oreiro, ou um avião presenteado por algum narcotraficante. Qualquer fábula disparatada poderia servir a Sergio Moro e/ou qualquer outro juiz ou procurador equivalente em prevaricação, dos que há tantos, muitíssimos, lá e cá.

À operação do grupo Globo, camarada dos mentimedios argentinos, somou-se a prédica de várias décadas de docência reacionária a cargo de dezenas de igrejas espertalhonas e abusadoras da ingenuidade popular. Que no Brasil tem um imenso poder. Dizem-se missionárias, salvadoras e milagreiras, lá estão -como aqui cada vez mais, e patrocinadas por quase todos os governos nacionais e provinciais- para formatar a ignorância de milhões de seres humanos, pobrezinhos, que fartos de serem caloteados acreditam em qualquer coisa.

Com esses ingredientes -mentiras, falsas convicções, carência de provas e muita agitação na televazia nacional- e com poderes judiciais, com minúsculas, que são proverbialmente injustos servidores do poder de plantão, hoje se pode condenar a qualquer pessoa. Sobretudo se essas pessoas tem influência, ideias, reconhecimento e trajetórias de decência e honradez. E nem se projeção política, como é o caso de Lula da Silva, cujo teto político é todavia, e apesar destas bestialidades jurídicas, incalculável.

É claro que as exceções a estes barbarismos políticos e judiciais -que há, claro, lá e cá- são simplesmente só isso: exceções. Porque a regra epocal, a marca destes tempos, é a mentira e o engano; o calote e a banalização; o envolvimento das massas que "creem" ao invés de pensar.


Assim as mídias e a telelixo, do Brasil mas também de todo o continente -e do mundo, se me permitem- inventou e plantou e regou esta rede destruidora de uma das figuras políticas mais interessantes, atrativas e reformistas de Nossa América. E o fez com a mesma estratégia que impera entre nós e que se impôs há anos na república irmã do Chile, que hoje encabeça o ranking mundial de desigualdade social. Como o mostro invertebrado e sigiloso que é, capaz de entrar em todos os lugares e submeter todas as mentes e todos os corações, se impõe dia a dia e hora a hora abusando da "pobre inocência das pessoas" (León), essa que "acredita nas revistas" (Charly) e a televisão, e agora às infâmias reproduzidas ao infinito pelas chamadas redes sociais, que na realidade são anti-sociais e inclusive contra-sociais.

É por isso que velhos diários e a velha televisão, agora envolvidos com cabos e netflixes, de maneira cada vez mais precisa e veloz e voraz, agora também se apoderaram aqui -servidos pelo governo atual- do universo óptico das telecomunicações. Esse novo, gigantesco e irrefreável sistema tecnológico a serviço de negócios fabulosos e ilícitos quase todos, encarregados de executar o arrasamento de todos os princípios e normas constituicionais.

Então a pergunta é: quem detém estes tipos, estes meios, estes juízes, estes governos, esta maldade de terno e gravata e carros suntuosos que chama de "alta classe"? Quem os para agora que voltam a adoecer de antidemocracia às forças armadas que tanto custou democratizar? Quem, se o único argumento final destes tipos são as forças de choque e o chocobarismo santificado por uma montonera conversa a serviço de portadores de Panamá Papares a rodo? A que magistratura recorrer, a que justiça?

O panorama é desolador. No Brasil e também aqui, onde o silêncio do governo só se pode ler como cumplicidade. Aqui onde se substitui o procurador do caso escandaloso do Correio e a família presidencial.

Então o que nos resta é primeiro informar-nos. E refrescar a memória dos conscientes  e ainda restam, dizendo-lhes que isto se chama Fascismo. E que assim sempre funcionou. Na Europa e na Ásia e na África, e em toda a América.

Refrescar a memória é necessário, e com as palavras precisas: quando os fascistas procedem, como agora contra Lula no Brasil, isso é só espelho do que nos passa e seguirá passando com estes tipos que marcham dia a dia até o funeral da Democracia.

O que nestas horas se vive no Brasil equivale a um golpe de Estado. Sem dissimulação, sobra de hipocrisia, com um cinismo fenomenal que em todo o continente com com "jornalistas" -e há tolos entre eles- que são capazes de justificar o que seja. E assim o fazem.

Nesse espelho devemos ver-nos hoje. Mas não para chorar e desesperarmos, mas sim para remontar. Porque a esperança não morre, apesar de tudo. E porque apesar de dirigências que mostram suas mesquinharias diariamente, a esperança segue chamando democracia, paz, consciência cívica e sobretudo decência.

Em países corruptos a mancheias, a esperança está em não sê-lo. Em países de mentiros, a esperança está em não mentir. Em países conquistados pelo fascismo, a esperança e a carta de triunfo está em pensar e dizer o que se pensa, e logo atuar como se diz. Somente assim a política é digna e é boa, e vence, como sempre venceu, aos fascistas.


Fuente: https://www.pagina12.com.ar/106836-lula-el-fascismo-y-la-esperanza

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