Por Juan Forn
O menino Eric Hobsbawm passeava com babá pelas ruas de Alexandria no ano de 1918. Um mendigo chinês pede-lhes uma moeda. A babá nega-lhe. O chinês ignora a babá, olha fixamente para a criança e lhe dedica uma deliciosa maldição de seu país milenar: "Oxalá vivas tempos interessantes". Oitenta e cinco anos depois, quando é um venerável historiador e se senta para escrever suas memórias, sabe que já tem o título: Temos interessantes. Nessas memória, faz uma breve enumeração das coisas que presenciou ao longo do século que viveu e não se pode deixar de pensar naquele monólogo que recitava o replicante no final de Blade Runner, com o olhar perdido na chuva ácida quecaía do céu e o anseio de deixar pelo menos esse testemunho dos fenômenos inéditos que haviam contemplado seus olhos: "Vi entardeceres de duas luas em Júpiter..." Aos 86 anos, Hobsbawm disse: "Vi como se extinguiam da face da terra todos os impérios coloniais europeus, incluindo aquele que chegou a ser o mais vasto e poderoso deles durante meus anos de infância. Vi muitas potências mundiais condenadas a jogar nas ligas inferiores. Vi a irrupção e a queda de um estado alemão que esperava durar mil anos, e também o nascimento e o final de um poder revolucionário que ameaçava extender-se no mundo inteiro. Vi um tempo em que a palavra capitalismo contava com poucos votos como a palavra comunismo atualmente. Duvido que chegue a ver o fim do império americano, mas posso assegurar que alguns leitores deste livro deverão presenciá-lo".
Vejam o texto original em PAGINA/12 e uma tradução livre no blog NEBULOSA.DE.ÓRION
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