Wanderley Guilherme dos Santos
Diante de um Legislativo
pusilânime, Odoricos Paraguassú sem voto revelam em dialeto de péssimo
gosto e falsa cultura a raiva com que se vingam, intérpretes dos que
pensam como eles, das sucessivas derrotas democráticas e do sucesso
inaugural dos governos enraizados nas populações pobres ou solidárias
destes. Usando de dogmática impune, celebram a recém descoberta da
integridade de notório negocista, confesso sequestrador de recursos
destinados a seu partido, avaliam as coalizões eleitorais ou
parlamentares como operações de Fernandinhos Beira-mar, assemelhadas às
de outros traficantes e assassinos e suas quadrilhas.
Os quase
quarenta milhões de brasileiros arrancados à miséria são, segundo estes
analfabetos funcionais em doutrina democrática, filhos da podridão,
rebentos do submundo contaminado pelo vírus da tolerância doutrinária e
pela insolência de submeter interesses partidariamente sectários ao
serviço maior do bem público. Bastardos igualmente os universitários do
Pró-Uni, aqueles que pela primeira vez se beneficiaram com os serviços
de saúde, as mulheres ora começando a ser abrigadas por instituições de
governo para proteção eficaz, os desvalidos que passaram a receber,
ademais do retórico manual de pescaria, o anzol, a vara e a isca.
Excomungados os que conheceram luz elétrica pela primeira vez, os
empregados e empregadas que aceitaram colocações dignas no mercado
formal de trabalho, com carteira assinada e previdência social
assegurada. Estigmatizados aqueles que ascenderam na escala de renda,
comparsas na distribuição do butim resultante de políticas negociadas
por famigerados proxenetas da pobreza.
Degradados, senão
drogados, os vitimados pelas doenças, dependentes das drogas medicinais
gratuitas distribuídas por bordéis dissimulados em farmácias populares.
Pretexto para usurpação de poder como se eleições fossem, maldigam-se as
centenas de conferências locais e regionais de que participaram milhões
de brasileiros e de brasileiras para discussão da agenda pública por
aqueles de cujos problemas juízes anencéfalos sequer conhecem a
existência.
O Legislativo está seriamente ameaçado pelo
ressentimento senil da aposentadoria alheia. Em óbvia transgressão de
competências, decisões penais lunáticas estupram a lógica, abolem o
universo da contingência e fabricam novelas de horror para justificar o
abuso de impor formas de organização política, violando o que a
Constituição assegura aos que sob ela vivem. Declaram criminosa a
decisão constituinte que consagra a liberdade de estruturação
partidária. Vingam-se da brilhante estratégia política de José Dirceu,
seus companheiros de direção partidária e do presidente Lula da Silva,
que rompeu o isolamento ideológico-messiânico do Partido dos
Trabalhadores e encetou com sucesso a transformação do partido de
aristocracias sindicais em foco de atração de todos os segmentos
desafortunados do país.
Licitamente derrotados, os conservadores e
reacionários encontraram no Supremo Tribunal Federal o aval da
revanche. O intérprete, contudo, como é comum em instituições
transtornadas, virou o avesso do avesso, experimentou o prazer de
supliciar e detonou as barreiras da conveniência. Ou o Legislativo reage
ou representará o papel que sempre coube aos judiciários durante
ditaduras: acoelhar-se.
Imprensa independente, analistas,
professores universitários e blogueiros: comuniquem-se com seus colegas e
amigos no Brasil e no exterior, traduzam se necessário e divulguem o
discurso do ministro-presidente Carlos Ayres de Britto sobre a política,
presidencialismo, coalizões e tudo mais que se considerou autorizado a
fazer. Divulguem. Divulguem. Se possível, imprimam e distribuam
democráticamente. É a fama que merece.
Visto no CONVERSA AFIADA
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