Um artigo que publiquei na Carta Maior
sobre a questão do “estado de exceção permanente” mereceu algumas
considerações que reputo importantes para a cultura política e jurídica
do Estado de Democrático de Direito e também para o meu próprio
proveito, como pessoa que preza o debate de ideias e milita - por vezes
assumindo cargos públicos- no campo do ideário socialista.
Não
desconheço as grandes contribuições de Agamben e sobretudo do maiúsculo
Walter Benjamin sobre o assunto. Nem o juízo - sustentado por
brilhantes analistas de esquerda - de que é possível, na profundidade
do conceito de “exceção permanente” de Schmitt, matizar que o sistema
de produção e reprodução das condições de existência no capitalismo
ampara-se, sempre, na “excepcionalidade”. Tomada esta, enfim, como
violação permanente das suas próprias normas de organização jurídica e
política, de forma alheia às promessas das constituições democráticas,
com seus “direitos fundamentais”.
Vejam mais em CARTA MAIOR
Um comentário:
Craque esse Tarso Genro. Outro trecho do texto dele:
"No Estado Democrático de Direito, a ideologia do Magistrado “seleciona” a doutrina jurídica, que ampara a decisão. Na ditadura (ou na “exceção”) esta escolha é sufocada pelo olhar do Líder, através da Polícia. A Teoria do Domínio Funcional dos Fatos foi, portanto, uma escolha ideológica, feita para obter dois resultados: condenar os réus e politizar o julgamento. Talvez algumas condenações não pudessem ser proferidas apenas com as provas dos autos, mas sobretudo a doutrina escolhida mostra que não bastava condenar os réus - alguns deles tiveram seus delitos provados ou confessados - era preciso condená-los pela “compra de votos” no Parlamento: a política (dos partidos) não presta, os políticos são desonestos, a esquerda é a pior. Essa é a mensagem que era preciso deixar através da politização completa da decisão pela Teoria do Domínio.
O Supremo Tribunal Federal faz política o tempo inteiro como todos os Tribunais Superiores do mundo e a vitória obtida pela direita ideológica -muito bem representada pela maioria da mídia neste episódio - ao transformar delitos comuns em delitos de Estado (compra de votos), vai muito além deste episódio e não se sabe, ainda, quais os efeitos que ele terá no futuro. Numa “sociedade líquida”, sem balizas culturais firmes, onde a estética da violência é festejada em horário nobre –com sangue e vitórias do culto da força- pode ser que ela vá se diluindo ao longo do tempo."
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