Não foi por falta de reconhecimento da gravidade do caso. Na mesma sexta, o principal editorial descrevia bem a escalada no grau de comprometimento de Cunha, embora ainda reservasse enorme dose de boa vontade ao aventar a possibilidade de que a informação da Suíça pudesse estar errada. Também pegou leve com a atitude imperial do deputado, que até então havia se recusado a falar do assunto, como se não devesse explicações.
O colunista Bernardo de Mello Franco (Brasília, na pág. A2) escreveu que Cunha "continua a confiar na covardia do governo e na cumplicidade da oposição, a quem se aliou na causa do impeachment". Até a sexta à noite (quando entrego a coluna), essa confiança era merecida: o presidente da Câmara estava sendo convenientemente poupado de críticas. Um deputado (anônimo, como sói acontecer) resumiu a chave oportunista: "Resta rezar para que a conta [de Cunha] só apareça após o impeachment".
É parte do jogo político essa complacência que atropela sem dó qualquer coerência e subordina valores republicanos a interesses de ocasião. E é a essa imagem de condescendência interessada que a Folha corre o risco de se ver associada com uma cobertura que parece não conferir o peso devido aos problemas de um dos principais personagens da crise política. Não é necessário pesquisar muito para comprovar que o jornal já fez muito mais barulho com histórias menos comprometedoras e figuras menos controversas.
Confira o comentário de Vera Guimarães, Ombudsman da Folha de São Paulo, a respeito da cobertura do jornal, disponível também em Colagens do Umbigo e da Mosca Azul.
Destaque do blogueiro.
Um comentário:
Mais feio que a Folha de São Paulo, escondendo a investigação sobre Eduardo Cunha na Suiça, além de seu papel na Lava Jato, só o papel das revistas semanais.
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