Sucede que os últimos dados do IBGE, datando de 2005, mostram um contingente de 14,9 milhões de pessoas com 15 anos ou mais analfabetas no país. É muita gente, gente! Quando se verifica o critério da cor aparece de novo a tara da discriminação racial. Cito o relatório do IBGE “a taxa de analfabetismo de pretos (14,6%) e de pardos (15,6%) continua sendo em 2005 mais de o dobro que a de brancos (7,0%)”.
Ora, desde o início, a propaganda do TSE e da mídia tem procurado incitar os jovens de 16 a 18 anos incompletos a se tornarem eleitores. Mas não há notícia de propaganda similar dirigida aos analfabetos em geral, ou de medidas específicas para facilitar-lhes a obtenção do título de eleitor. Lembro-me de uma notícia ouvida no final de 1988 ou começo de 1989, antes da primeira presidencial direta, dizendo mais ou menos isso: “ a jovem Adriana Rezek, de 16 anos, filha do ministro Francisco Rezek (então presidente do TSE), foi uma das primeiras a obter seu título de eleitora, etc...”. (a moça se chamava Adriana, mas não estou seguro se tinha 16 ou 17 anos). Lembro também da reflexão que fiz então no Cebrap, ou escrevi alhures: ‘que tal prevenir dona Maria de Tal, empregada doméstica há 40 anos, negra e analfabeta, que ela também pode ser eleitora e festejar a obtenção de seu título eleitoral’?
Na época, aparecia na TV, na propaganda do TSE, um jovem surfista dizendo algo do gênero: “ e aí garotão, não vai tirar seu título eleitoral?”
Nada mudou de lá para cá. Fala-se sempre dos jovens que podem obter título de eleitor aos 16 anos e jamais dos analfabetos adultos que também têm este mesmo direito. O PT nunca se mexeu para mudar isso. O Movimento Negro nunca se mobilizou para mudar isso. A imprensa e a mídia deram pouca ou nenhuma notícia sobre o assunto, e os tribunais eleitorais continuam insensíveis ao tema.
Não há preconceito de classe? Não há preconceito de raça no Brasil? Então tá!
Texto completo no Seqüências Parisienses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário