Para a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, segundo a Zero Hora, "o Estado deveria se mobilizar em torno da causa" da redução da faixa de fronteira brasileira, atualmente de 150 quilômetros a partir do limite com outras nações.
Aguerridos defensores da diminuição, entre eles o deputado federal Nélson Proença (PPS) e o deputado estadual Berfran Rosado (PPS), parecem acreditar que "A atual dimensão limita investimentos em áreas de 197 municípios gaúchos, já que estrangeiros e companhias de fora do país não podem adquirir terras nestes locais". Para Proença, inclusive, "a dimensão das perdas que os municípios compreendidos nesta área tiveram com a atual lei só poderá ser conhecida após a alteração", referindo-se aos municípios das empobrecidas metade sul e fronteira oeste gaúchas localizados na referida faixa.
Talvez Proença, antes de incensar um ainda projeto de investimento privado, devesse ler outros depoimentos sobre perdas, como um comentário no Fazendo Média, via Dialógico, do leitor Leandro Alves, sobre a ação da Aracruz no norte do Espírito Santo:
"Só se vê por todo lado, a triste, desabitada e agourenta floresta de eucalíptos, é assustador. Conversei com nativos da região e as falas são de pura revolta e indgnação pelas terras perdidas, desemprego, miséria, fome e a total depredaçao do meio ambiente".
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Bem, mas o que de fato está por detrás de tais desprendidas motivações, afora a discutível tese de que efetivamente tal projeto possa trazer desenvolvimento para a metade sul gaúcha?
O ponto é que "O problema da faixa de fronteira ganhou força após o ingresso da sueco-finlandesa Stora Enso na Fronteira Oeste, em 2005. A indústria de celulose, que pretende instalar uma planta de mais de US$ 1 bilhão na região, previa adquirir 100 mil hectares no Rio Grande do Sul para fazer sua base florestal (...)
Por meio da Derflin, braço brasileiro da multinacional, foram comprados 46 mil hectares para o plantio de eucalipto, mas o processo foi interrompido após as dificuldades para registrar as terras no cartório, decorrentes da atual legislação. Pelo menos US$ 100 milhões em investimentos estão suspensos devido ao imbróglio jurídico" (Os grifos são meus).
Ou seja, uma multinacional tentou bancar a espertinha e se ralou, pois o processo de compra de terras por ela através de laranjas e de registro em cartório foi interrompido graças à legislação nacional, e não após as dificuldades para registrar as terras no cartório decorrentes da legislação nacional, como eufemiza ZH, uma vez que não é que seja difícil registrar terras nesse caso, mas sim que é impossível, desde que provada a relação de triangulação.
Mas que bom para ela que seus interesses no Brasil contam com a simpatia de deputados federais e estaduais, muito embora La Vieja acredite que se uma empresa brasileira tentasse passar a perna no estado finlandês ou sueco nenhum de seus deputados sairia em seu socorro ou defenderia qualquer de seus interesses.
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Por sua vez, José Antônio Alonso, economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE-RS), não concorda nem com Proença e nem com Rosado.
Alonso teria dito, segundo ZH, que "a modificação pode até ajudar no desenvolvimento de algumas localidades, mas não será determinante na alteração do panorama geral da Metade Sul. A base do empobrecimento estaria em outros fatores, como estrutura fundiária e matriz produtiva pouco diversificada".
Ou seja, latifúndio e monocultura ou pecuária extensiva, como qualquer pessoa que tenha estudado minimamente a história econômica do RS sabe, e até mesmo alguns analfabetos.
Que pena que eles sejam inelegíveis.
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Finalizando, como La Vieja já havia dito ao comentar matéria veiculada em ZH por Lucia Ritzel, que viajou a São Paulo a fim de escrevê-la a convite da Aracruz e da Votorantim Celulose e Papel, é uma falácia se supor que a Aracruz, a Stora Enso e a Votorantim Celulose e Papel tenham projetos de desenvolvimento para a metade sul gaúcha. Empresas privadas só têm projetos de desenvolvimento para si próprias, e acidentalmente tais projetos podem ou não promover determinado ganho social. Empresas, como todo e qualquer almofadinha com MBA sabe, têm como objetivo final o lucro, e não os interesses das comunidades das quais exploram os recursos naturais.
O fato é que, escrevia La Vieja acerca do também falacioso comentário de Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa) entrevistada pela jornalista de ZH, segundo o qual "Os escandinavos deixaram de investir em seus países para investir no Brasil. Então, é nosso papel assegurar esses projeto",
"(...) está esgotada a capacidade de expansão territorial das papeleiras na escandinávia, e somente por isso, além dos preços da terra e da mão-de-obra, eles estão aqui, para não mencionar a peculiar simpatia que alguns novos jeitos de governar lhes devotam por conta do afrouxamento da legislação ambiental. E o fato dos escandinavos terem deixado 'de investir em seus países para investir no Brasil' não é condição suficiente, e sequer necessária, para que seja 'nosso papel assegurar esses projetos', pois mais essencial do que empresas multinacionais terem deixado de expandir suas matrizes seja lá por qual motivo é saber se realmente é do interesse e importante para o RS assegurá-los. Tais projetos é que precisam se submeter ao nosso crivo, e não o contrário. Eles é que podem não ser bons o suficiente para nossos interesses de desenvolvimento".
Também da Vieja Bruja, que, por sinal, gerou acalorada discussão.
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