O que faz as revoluções não é o desespero, mas, sim, a esperança. Quando os povos se revoltam, revoltam-se na busca de uma vida melhor, em que haja mais pão e mais liberdade, que, juntos, significam dignidade. Mas as revoluções nem sempre se realizam com sangue e chumbo. Maria Auxiliadora Sampaio, de 28 anos, moradora de Fortaleza, foi assunto, na semana passada, do New York Times. Matéria assinada por Alexei Barrionuevo recolhe seu testemunho de vida, idêntico ao de milhões de outras pessoas, principalmente mulheres, que constituem a nova humanidade que emerge do chão do Brasil.
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4 comentários:
Distribuir para crescer
Mauro Santayana
O que faz as revoluções não é o desespero, mas, sim, a esperança. Quando os povos se revoltam, revoltam-se na busca de uma vida melhor, em que haja mais pão e mais liberdade, que, juntos, significam dignidade. Mas as revoluções nem sempre se realizam com sangue e chumbo. Maria Auxiliadora Sampaio, de 28 anos, moradora de Fortaleza, foi assunto, na semana passada, do New York Times. Matéria assinada por Alexei Barrionuevo recolhe seu testemunho de vida, idêntico ao de milhões de outras pessoas, principalmente mulheres, que constituem a nova humanidade que emerge do chão do Brasil.
"Eu me sinto fazendo parte do povo que está subindo no mundo. Quando você não tem nada, não tem uma profissão, não tem de que viver, você não é ninguém, você é um mosquito. Eu não era nada. Hoje, estou no céu". Maria Auxiliadora recebia ajuda do Bolsa Família. Animada, há dois anos conseguiu um empréstimo de 190 reais e comprou um estojo de manicure. Trabalhando de casa em casa, formou sua clientela e hoje ganha quatro salários mínimos ao mês. Seu próximo passo será a compra de um equipamento de esterilização de seus instrumentos de trabalho – o que, provavelmente, melhorará os seus rendimentos.
Maria Benedita de Sousa, também de Fortaleza, que, há cinco anos arranjou um empréstimo do Banco do Nordeste, comprou duas máquinas de costura e iniciou pequena confecção de roupa íntima feminina. Hoje tem 25 empregados, produz 55 mil peças por mês, já comprou casa própria e vai comprar seu segundo carro. Antes disso, trabalhava em uma fábrica de jeans e recebia o salário mínimo.
Há menos de cinco anos, o Brasil estava longe de qualquer revolução, porque os pobres estavam desprovidos de esperança. Os programas sociais do governo, ao permitir modestíssima expansão do consumo, fizeram crescer o mercado interno – a única garantia de prosperidade nacional segura – e deram empuxo ao processo geral de desenvolvimento.
O governo, agindo pela pressão das circunstâncias, diante do quadro de miséria que ameaçava a boa ordem burguesa, atuou de forma a aliviar a situação. O mérito é das próprias pessoas beneficiadas pelos programas, as mais pobres do país, que, em sua maioria, decidiram usar a modesta bengala da ajuda a fim de saltar o círculo de giz e sair do desânimo para a esperança. A ajuda aos pobres não foi esmola, como muitos acreditavam que fosse, mas investimento econômico de resultados concretos. Há quem considere absurdo o fato de que alguns dos beneficiados pelo programa de Bolsa Família tenham comprado geladeiras e fogões a gás. É provável que tais críticos só admitam o benefício do conforto a alguns privilegiados e não a todas as pessoas. Durante o governo do senhor Itamar Franco – em reunião que discutia a idéia da privatização das estatais – o senhor Pérsio Arida disse que só deviam ter acesso aos benefícios da civilização os que pudessem pagar por eles. Esse raciocínio não é apenas condenável do ponto de vista humano; é um acinte à lógica do ponto de vista econômico. Henry Ford partiu da idéia de que seus trabalhadores deveriam ser compradores dos carros que produziam – e foi essa idéia que dinamizou o capitalismo americano.
Quem viaja pelo interior do Brasil sente hoje como a paisagem humana começa a ser outra. Diminui o número de mendigos nas ruas, as pessoas estão mais bem vestidas e, mesmo entre os mais pobres, a estatura das crianças começa a impressionar. As pessoas estão comendo melhor e, ao comer melhor, resistem melhor às enfermidades. O grande médico Samuel Pessoa, pai do saneamento básico no Brasil, costumava dizer que não há melhor remédio do que a comida.
O autor da reportagem cita alguns números, como o aumento do número de cartões de crédito que chegou, em junho, a cem milhões e a menor dependência do Brasil com relação ao mercado norte-americano. Nossas exportações para os Estados Unidos representam hoje 2.5% do PIB. As do México são de 25% do PIB, o que o torna muito mais vulnerável às crises centrais – e cíclicas – do capitalismo.
Os pobres, com sua resposta ao mínimo de incentivo do Estado, dizem aos ricos que a força do Brasil está na coragem e na inteligência de seu próprio povo. Para muitos desses pobres, como Maria Auxiliadora, bastam 200 reais a fim de abrir o caminho à dignidade de ser alguém – e não "um mosquito".
[ 03/08/2008 ]
É um belo texto do Santayana.
Mas me diz uma coisa: colocar o texto completo no comentário também não é um descaminho com o Blogoleone?
Caro ZeAlfredo, comecei a publicar a íntegra no 1º comentário porque a Tribuna da Imprensa não tem um endereço permanente para seus textos. Agora vi que o JB vai aposentar sua versão html, portanto não sei quanto tempo ainda os textos estarão disponíveis. o objetivo, portanto, é prático, não ideológico. Abraço!
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