E é por conta da influência desse ideário, acima exposto, que ouvimos e lemos todo dia, pela grande maioria da mprensa brasileira, a cantilena contra a "gastança" do Estado quando este constrói novas universidades ou procura formular as bases de um tímido, diga-se de passagem, assistencialismo de curto prazo. Esse pessoal, assim como os setores privilegiados brasileiros, se imagina efetivamente vivendo em Londres ou Chicago e não na sociedade complexa mais desigual do planeta.
É a hegemonia desse discurso que explica também a paradoxal posição de um líder carismático como Lula. Lula é uma espécie de "profeta exemplar" (Max Weber) dado que sua identificação com as massas é "afetiva", por conta de seu passado exemplar, sem, no entanto, ser baseada em nenhum discurso unitário e coerente (atributo do profeta ético). O problema da sucessão de uma liderança carismática, carisma "pessoal" por excelência quando não se baseia num discurso articulado, reflete, precisamente, o drama atual de quem dispõe do poder político, mas não possui a hegemonia ideológica. Esse contexto, o fechamento do universo do discurso articulado, amesquinha toda a "esquerda" brasileira na covardia do politicamente correto, que fragmenta as lutas políticas em inúmeras bandeiras sem articulação entre si e segundo a última moda, e cuja única nota comum é a timidez e a ausência de ousadia.
Texto completo, vejam só, no caderno Aliás, do Estadão.
Um comentário:
Salve, Zealfredo! Salvei esse texto para levantar uma discussão com a família (em particular, com meu filho que é estudante de sociologia na UFRJ).
O professor e doutor Jessé cutucou as onças com a vara curta (a caneta, é claro, que simbolicamente é a arma dos intelectuais). A discussão pública desse texto seria daria uma grande contribuição para o debate político e desvelaria preconceitos, intolerancias e despeitos enrustidos em todos nós brasileiros que herdamos aqueles "mitos" da cordialidade, do jeitinho e da privatização do que é público.
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