quarta-feira, 6 de abril de 2011

Wassyla Tamzali: "O feminismo islâmico não existe"

Tem dirigido durante vinte anos o programa de igualdade de gênero na Unesco. A ativista argelina sente-se decepcionada por uma esquerda que não se opõe a essa "prisão de tela" chamada burka.

A argelina Wassyla Tamzali é partidária de chamar as coisas por seu nome. Em "A burka como desculpa» (Saga editorial) Tamzali aconselha a nossos dirigentes que abordem o problema mais além da conjuntura política. Veterana lutadora pelos direitos das mulheres, indigna-lhe ver como o governo espanhol brecou a proibição "desse sudário" porque identificava a iniciativa da direita.

A burka é mulçumana?

Definitivamente, não. Nos países mulçumanos é pré-islâmico e sua prática está delimitada: península arábica, Afeganistão, sul do Irã... A burka não tem nada a ver, por exemplo, com a população berbere do Magreb: as mulheres berberes não carregam véu.

Nem um símbolo religioso?

Não é um símbolo religioso. Não existe nenhuma passagem do Alcorão que fale da burka: supõe, pura e simplesmente, um símbolo de dominação. Uma forma de terrorismo intelectual, religioso e moral contra a liberdade das mulheres.

Vejam mais detalhes em MUJERES EN RED-El Periódico Feminista


2 comentários:

zejustino disse...

Tradução livre completa do texto deste post:

"Wassyla Tamzali: "O feminismo islâmico não existe"

Tem dirigido durante vinte anos o programa de igualdade de gênero na Unesco. A ativista argelina sente-se decepcionada por uma esquerda que não se opõe a essa "prisão de tela" chamada burka.

A argelina Wassyla Tamzali é partidária de chamar as coisas por seu nome. Em "A burka como desculpa» (Saga editorial) Tamzali aconselha a nossos dirigentes que abordem o problema mais além da conjuntura política. Veterana lutadora pelos direitos das mulheres, indigna-lhe ver como o governo espanhol brecou a proibição "desse sudário" porque identificava a iniciativa da direita.

A burka é mulçumana?

Definitivamente, não. Nos países mulçumanos é pré-islâmico e sua prática está delimitada: península arábica, Afeganistão, sul do Irã... A burka não tem nada a ver, por exemplo, com a população berbere do Magreb: as mulheres berberes não carregam véu.

Nem um símbolo religioso?

Não é um símbolo religioso. Não existe nenhuma passagem do Alcorão que fale da burka: supõe, pura e simplesmente, um símbolo de dominação. Uma forma de terrorismo intelectual, religioso e moral contra a liberdade das mulheres.

Hay quien habla de «feminismo islámico».

El «feminismo islámico» es un oxímoron, una impostura que se ha infiltrado no sólo en las universidades, sino en organismos internacionales como la Unesco. Las instituciones europeas dedicadas al diálogo con los países del sur del Mediterráneo también han escogido el llamado «feminismo islámico». En España ya se conocen las posiciones ambiguas de la Casa Árabe, y ahora hay que añadir la de la Casa del Mediterráneo de Alicante. No nos engañemos. El feminismo es una ideología de liberación y el islam es de obediencia.

Afirma que a esquerda não enfrenta a burka...

(continua abaixo)

zejustino disse...

(continuação)

O discurso da esquerda não deixa de supreender-me. Sou consciente de que há que controlar a islamofobia da ultradireita, mas as respostas de políticos, intelectuais e feministas de esquerda são inaceitáveis, errôneas. O pensamento pós-moderno já não aspira transformar o mundo, o aceita tal como é e afirma que o universalismo é europeu e não se deve impor a outras culturas. A esquerda é incapaz de formular uma moral: tudo lhe parece tolerável ... A barbárie da burka não faz calar os corifeus do culturalismo.

Apresentam o véu como um ato de liberdade religiosa...

Se discutes o véu o colocam à direita: não se o questionam porquê sua idéia de liberdade se fundamenta na vontade subjetiva.

Como vê as revoltas no mundo árabe?

Nessas revoltas ninguém tem escutado slogans anti-ocidentais, nem anti-israelitas, nem proclamações islâmicas. Pela primeira vez, desde a independência, os povos árabes põem a História em marcha. Com a descolonização, a História ficou brecada com as ditaduras militares da Síria, Egito e Argélia.

Khadafi assegura lutar contra a Al Qaeda.

Diziam também que eram o freio contra o islamismo e por isso o Ocidente os apoiava. Não creiam neles. Totalitarismo e islamismo se retroalimentam.

Muitos historiadores sugerem que o Islã não viveu uma Reforma como o catolicismo. A mudanças políticas podem ajudar?

O catolicismo se reformou quando mudaram os sistemas políticos. A queda do absolutismo abriu as portas para a reforma religiosa. Essa transformação política, se se produz, comportará uma reforma na religião mulçumana.

Dizem que muitos mulçumanos já não se reconhecem no Islã.

Se os católicos não se identificam com a Inquisição é lógico que alguns mulçumanos não creem em um Islã absolutista.

Os que não se opõem à burka argumentam que é um fenômeno minoritário, que proibi-lo provocaria um efeito rebote entre os mulçumanos mais anti-ocidentais

De los musulmanes integrados en la vida democrática no se habla. Es un islam silencioso, mientras que el islam violento acapara los medios. Cuando hablamos de burka nos referimos a un símbolo, no a una simple prenda de lino.

E a Aliança de Civilizações?

A esquerda espanhola tornou-se adepta do relativismo cultural. A Aliança de Civilizações é um "gadget" político, a resposta ao choque de culturas. Se o choque dividia o mundo entre bons e maus, a Aliança o subdividia em civilizações múltiplas que deveriam ser respeitadas. Acabam no mesmo: explorar as diferenças.

Suponhamos que os paises árabes alcancem a democracia. Que faremos, como sucedeu na Argélia, se um partido islamista ganhar as eleições?

O perigo islâmico na Argélia tem passado e não creio que o Egito ou a Tunisia saiam de uma ditadura para cair em outra. O perigo é que os militares que ainda controlam o poder, como no Egito, se aliem aos Irmãos Mulçumanos. Chegar a um acôrdo é fácil entre os que creem na democracia."