sexta-feira, 27 de maio de 2011

Apresentação do ensaista venezuelano Gabriel Andrade “Pós-modernismo, vá te ferrar fraude!”

Mario Bunge
www.elarcadigital.com.ar

Imaginemos um jovem filósofo sul-americano que viaja para Paris. Vai acreditando que esta continua sendo a Cidade da Luz que fora desde o século das luzes até a Segunda Guerra Mundial.

O jovem se hospeda numa modesta pensão na Rive Gauche (5º andar sem elevador). Visita a Sorbonne, as grandes livrarias e os famosos cafés, esperando encontrar-se com os dignos descendentes de Descartes e Pascal, Voltaire e Diderot, Holbach e Condorcet, Lavoisier e Buffon, Laplace e Lagrange, Bernard e Pasteur, Poincaré e Hadamard, Perrin e os Curie, ou pelo menos os filósofos Bergson, Meyerson e Lalande, que escreviam bem porque pensavam honesta e claramente.

Estranha nosso jovem os títulos dos cursos livres de impostos(*) que se anunciam nas ruas: Astrologia psicoanalítica, Psicanálise astrológica, Símbolo e destino, Eidética e dietética, Homeopatia existencial, Existencialismo comunitário. Causa-lhe desgôsto percorrer essas ruas que evocam tantos disparates.

Sente nostalgia de sua cidade natal, que não tem o Louvre nem a torre Eiffel, mas não cheira a podridão intelectual. Também assombra ao latino-americano os títulos dos livros que são mais vendidos: O nada de tudo, Teoria egológica da comunicação, Dialética da embriaguês, Marx precursor de Heidegger, Ciência feminina, Sintaxe do ser, Estrutura estruturante, Falocracia matemática, O prazer do suicidio, Semiótica do orgasmo, Orgasmo do signo.

Vejam o texto completo (em castelhano) em REBELIÓN.ORG (ou em tradução livre no espaço de comentários deste post, ou no blog alternativo NEBULOSA DE ÓRION)

3 comentários:

zejustino disse...

Texto completo (em tradução livre) do post:

"Apresentação do ensaista venezuelano Gabriel Andrade
“Pós-modernismo, vá te ferrar fraude!”

Mario Bunge
www.elarcadigital.com.ar


Imaginemos um jovem filósofo sul-americano que viaja para Paris. Vai acreditando que esta continua sendo a Cidade da Luz que fora desde o século das luzes até a Segunda Guerra Mundial.

O jovem se hospeda numa modesta pensão na Rive Gauche (5º andar sem elevador). Visita a Sorbonne, as grandes livrarias e os famosos cafés, esperando encontrar-se com os dignos descendentes de Descartes e Pascal, Voltaire e Diderot, Holbach e Condorcet, Lavoisier e Buffon, Laplace e Lagrange, Bernard e Pasteur, Poincaré e Hadamard, Perrin e os Curie, o pelo menos os filósofos Bergson, Meyerson e Lalande, que escreviam bem porque pensavam honesta e claramente.

Estranha a nosso jovem os títulos dos cursos livres de impostos(*) que se anunciam nas ruas: Astrologia psicoanalítica, Psicanálise astrológica, Símbolo e destino, Eidética e dietética, Homeopatia existencial, Existencialismo comunitário. Desgosta-lhe percorrer essas ruas que evocam tantos disparates.

Sente nostalgia de sua cidade natal, que não tem o Louvre nem a torre Eiffel, mas não cheira a podridão intelectual. Também assombra ao latino-americano os títulos dos livros que são mais vendidos: O nada de tudo, Teoria egológica da comunicação, Dialética da embriaguês, Marx precursor de Heidegger, Ciência feminina, Sintaxe do ser, Estrutura estruturante, Falocracia matemática, O prazer do suicidio, Semiótica do orgasmo, Orgasmo do signo.

O jovem filósofo está aturdido. Para isto vim de tão longe e depois de sofrer tantas privações para juntar o dinheiro necessário? Não sabe se ri ou se chora. Pergunta a si mesmo o que passou com a França nas últimas décadas. Como foi possível que a ocupação alemã entulhasse com irracionalismo alemão a tantos cérebros que se haviam apreciado deslumbrar com luz cartesiana? Que se havia feito da honestidade intelectual? Por que os parisienses se deixaram deslumbrar pelas loucuras e nonsense de Husserl, o avô do pós-modernismo, e seus discípulos?

Continua no próximo comentário...

zejustino disse...

Continuação do texto:...

Não sei se Gabriel Andrade, o autor desta obra, teve essa experiência desalentadora. Mas a tivemos muitos que havíamos admirado e amado a Cidade da Luz, de onde agora prosperam os falsificadores de moeda cultural. O pior é qe esta falsa moeda circula agora por todo o mundo. Estudantes chineses, canadenses ou argentinos que nunca ouviram falar de Voltaire nem de Diderot nem de Holbach, agora lêem com a unção de noviços os disparates de Foucault, Derrida, Deleze e outros enganadores orgulhosos de terem se livrado da "tiranía da coerência e a verdade". Gabriel Andrade tem se proposta a ingrata tarefa de advertir aos incautos: "Não se junteis aos vagabundos disfarçados de intelectuais, esses alquimistas que transmutam merda em palavra. Continuem desfrutando da luz e tentando fazer algo honesto em lugar de enganar jovens que não tiveram a fortuna de receber uma formação rigorosa".

Admiro a capacidade de Andrade para examinar com sua lupa uma montanha de lixo. Em particular, me alegro que haja sabido distinguir o feminismo político, nobre luta contra a discriminação sexual, do feminismo academico, que não é senão uma fraude escandalosa e que, longe de enriquecer o estudo da mulher, tem desacreditado o movimento feminista. He admirado la capacidad de Andrade para examinar con su lupa una montaña de basura.

Também admiro a coragem de Andrade ao admitir que não basta ser politicamente surdo para estar ao abrigo do vendaval pós-moderno. Pelo contrário, a esquerda tem sua parte de responsabilidade nesse retrocesso.Em particular, quem (como eu em meus anos de juventude) haja admirado Hegel sem advertir que inventou o truque de fazer passar o obscuro por profundo, sendo sem querer um idiota útil para a idiotice pós-moderna. Por que não baixou décadas antes o Arcanjo Gabriel Andrade para anunciar-nos a má nova, que o menino nasceu morto?

Em resumo, esta é uma excelente exposição crítica de uma das piores fraudes intelectuais de todos os séculos. Seu ator expõe com admirável claridade as obscuridades de escritores que não descobriram senão isto: que quando não se tem nada novo nem interessante que dizer, basta dize-lo de forma arrevesada para ser tomado por gênio por gente ingênua e de boa fé.

Somente me resta uma dúvida: de tanto ler tanta sandice e tanta simulação não se terá afrouxado algum parafuso a nosso autor? Os leitores atentos dirão.

* Prólogo de Mario Bunge à obra El postmodernismo ¡vaya timo! , de Gabriel Andrade, profesor da Universidad del Zulia (Venezuela), que será publicada próximamente pela Editorial Laetoli na coleção "¡Vaya timo! aetoli.es. O último título publicado nessa coleção é precisamente Las pseudociencias ¡vaya timo! , do própio Mario Bunge.

Fuente: http://www.elarcadigital.com.ar/modules/revistadigital/articulo.php?id=1966"

José Elesbán disse...

A propósito, Michel Foucault pode ser considerado um arauto da pós-modernidade. Eu gosto dele, e ele é citado no "post" anterior.