(Carta Maior; 6ª feira, 21/10/ 2011)
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
LÍBIA, PETRÓLEO E DEMOCRACIA
Quatro
semanas de bombardeios intensos dos caças da Otan precederam a captura e
morte de Kadafi, nesta 5ª feira, na Líbia. Sirte, a cidade nuclear no
centro das operações, foi reduzida a ruínas. Mais de 100 pessoas
morreram nos últimos 10 dias. Há centenas de feridos e encarcerados. A
violência não se limita aos combates.Um relatório da Anistia
Internacional, de 13 de outubro, "Detention Abuses Staining the New Libya",
denuncia a persistencia de prisões arbitrárias, sem julgamento, por
parte de milícias incorporadas ao governo provisório rebelde. A prática
da tortura é generalizada nas prisões, seja por vingança, seja como
método sancionado de coleta de informação. Se o Conselho Nacional de
Transição (CNT) não der mostras de "uma ação firme e imediata", diz o
Relatório da Anistia, a Líbia corre "um risco real de ver algumas
tendências do passado repetirem-se.O documento resume as conclusões de
uma delegação da Anistia Internacional que, entre 18 de agosto e 21 de
setembro, recolheu os testemunhos de perto de três centenas de
prisioneiros em 11 instalações de detenção da capital, Tripoli, bem como
de Zawiyah e outras regiões do país. As imagens de Kadafi banhado em
sangue, com o rosto desfigurado, morto após captura, ocuparam hoje um
espaço de destaque, algo jubiloso, em veículos tradicionalmente
empenhados em cobrar o respeito aos direitos humanos, sobretudo de
regimes cujos governantes, em sua opinião, não comungam valores
democráticos. Carta Maior repudia a tortura, o arbítrio e a opressão
--política e econômica, posto que são indissociáveis-- em qualquer
idioma e latitude. Não se constrói uma sociedade justa e libertária com o
empréstimo dos métodos que qualificam o seu oposto. A história dirá se o
que assistimos hoje na Líbia atende às justas aspirações das etnias
líbias por liberdade e justiça social, ou configura apenas uma cortina
de fumaça feita de bombas e opacidade midiática para lubrificar o
assalto das potências ao petróleo local.
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