A culpa de Lula e as mortes nas estradas
O Natal de 2007 já é passado – segundo os lojistas, o melhor dos últimos 10 anos, do ponto de vista das vendas, obviamente – e os jornais chegam às bancas e casas dos assinantes magrinhos, com pouca notícia. O incêndio no Hospital das Clínicas, em São Paulo, rendeu boas fotos nos dois diários paulistas e os acidentes nas estradas também foram bastante explorados em função do "aumento recorde" deste tipo de tragédia. Sobre o incêndio, há pouco a comentar e desde já o blog garante que não foi culpa do governador José Serra (PSDB), embora alguns digam que ele é tão azarado que nem no Natal consegue alguns momentos de paz...Sobre o aumento das mortes nas estradas, porém, vale a pena ler o comentário reproduzido abaixo, do jornalista Luciano Martins Costa, do Observatório da Imprensa. Este blog concorda com o argumentos e arremata: a culpa, neste caso, é mesmo do presidente Lula, como os jornalões marotamente insinuam, mas não pelas razões que eles apresentam. A culpa é de Lula porque em seu governo o país vem crescendo ano a ano, o que é muito bom, mas não deixa de provocar alguns problemas também graves. As estradas estão mais entupidas, os aeroportos estão cada vez mais lotados – sim, até o povão está tomando avião, para horror de uma certa classe média preconceituosa e invejosa que temos no Brasil. Essas coisas, no fundo, são como as dores do parto. A seguir, o lúcido texto de Luciano.
Guerra nas estradas
Mais uma vez, como acontece todos os anos, os jornais do dia 26 de dezembro trazem as estatísticas das mortes nas estradas brasileiras.
E a cada ano os números se tornam mais impressionantes.
Hoje, os jornais publicam uma avaliação parcial da Polícia Rodoviária Federal: foram 134 mortos em acidentes desde a meia-noite de sexta-feira até as 6 horas da manhã de ontem.
É bem provável que tenhamos tido, pela primeira vez, um Natal com mais mortes do que as que ocorrem no carnaval.
O balanço final será divulgado hoje, mas os dados parciais antecipados pelos jornais mostram que o número de vítimas fatais chega a ser quase 78% superior ao das ocorrências do Natal de 2006.
É a pior estatística dos últimos quatro anos, e pode ser ainda mais grave, já que ainda não haviam sido contabilizadas as ocorrências do último dia do feriado.
Segundo autoridades citadas pelo Estado de S.Paulo e a Folha, a principal causa de acidentes continua sendo a imprudência dos motoristas.
Mas o sucesso do modelo econômico adotado no Brasil tem grande relação com a tragédia.
O Estadão observa que 2007 foi o ano em que dois fatores ligados à economia aumentaram os riscos nas estradas.
O primeiro deles é a venda recorde de automóveis – foram 3 milhões de novos veículos colocados nas ruas e estradas neste ano, considerado o melhor resultado da indústria automobilística em toda a sua história.
O outro fator de risco é o aumento do consumo em geral, que provoca uma elevação na estatística de transporte de produtos industrializados e grãos pelas rodovias.
A receita da tragédia é a convivência de muito mais automóveis com muito mais caminhões, cada um deles dirigido por um motoristra apressado, nem sempre preparado e quase sempre convencido de que dificilmente será apanhado pela polícia.
Os jornais têm dado destaque todos os anos às estatísticas dos desastres, assim como têm sabido comemorar os feitos da economia.
O que parece estar faltando é relacionar uma coisa com a outra.
Do Blog Entrelinhas.
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