É quase impossível caminhar por Honduras sem ver ou tocar algo que não pertença aos Canahuati Larach, os Flores Facussé, os Andonie Fernández, os Ferrari, os Kafie, os Násser, os Rosenthal e os Goldstein. Quase todas essas famílias são de origem árabe-palestina e de confissão cristã, exceto os judeus Rosenthal e Goldstein. E quase todas têm algo em comum: seus patriarcas eram homens semianalfabetos que emigraram para Honduras no final do século 19 ou início do 20, instalaram pequenos comércios, prosperaram, enviaram seus filhos e netos para se formar nos EUA e agora estes ocupam as mais altas esferas do poder.
Não há inimizade entre árabes e judeus. Os Rosenthal compartilham com os demais as instalações do Clube Árabe de San Pedro Sula, a cidade mais industrializada. Estudam nos mesmos colégios, vão às mesmas festas e aos mesmos enterros. Às vezes discordam educadamente em questões políticas. Mas quanto ao golpe de Estado de 28 de junho, quase todas as grandes famílias o apoiaram.
O presidente deposto, Manuel Zelaya, vinha indicando desde 2007 alguns desses empresários pelo nome e sobrenome, culpando-os pelo atraso de Honduras. Ainda hoje Zelaya mostra-se convencido de que foram os grandes grupos empresariais, e não o presidente de fato, Roberto Micheletti, nem os militares quem promoveu o golpe.
Texto do El País, reproduzido no UOL.
2 comentários:
Mais um trechinho esclarecedor:
"'(...)Mas o confronto não veio por causa de Chávez e sim do salário mínimo. Mel o aumentou em 66%. Passou de US$ 174 para US$ 289. Eu lhe disse que era demais, mas ele foi em frente. Abriu uma guerra com a mídia. E depois Chávez veio a Honduras no primeiro semestre deste ano e pronunciou dois discursos incendiários falando da oligarquia e dos pró-ianques. E então mais empresários se voltaram contra Zelaya. E ele os atacou da televisão estatal e de um jornal que fundou.'"
Palavras de um destes oligarcas citados.
Vale conferir o texto completo.
O golpe era esse mesmo
Sabíamos desde o começo que as turbulências em Honduras terminariam nessa farsa eleitoral, com presença de metade da população e a legitimação fraudulenta dos golpistas. Tudo seguiu mais ou menos o Decálogo do Golpe Moderno, com alguns escorregões pela caricatura bananeira. O envio do presidente a uma base dos EUA, seqüestrado de pijamas, convenhamos, é coisa que não se via há tempos.
Que fique registrado para a posteridade: em plena alvorada do século 21, o presidente dos EUA, prêmio Nobel da Paz, endossou um golpe de Estado na América Central. Será útil não perder de vista que a grande imprensa brasileira também apoiou o golpe, com base em falsificações factuais e rancores ideológicos.
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