Tudo começou com uma briga em que ninguém tem razão. Ao fazer uma capa para Veja sobre Ernesto "Che" Guevara, o repórter pediu uma entrevista a um jornalista americano que escreveu festejada biografia do guerrilheiro. Por algum motivo, a entrevista não se realizou. O americano não gostou da reportagem; e, em vez de enviar uma carta ao autor, ou à revista, ou a ambos, enviou-a também a uma lista de correspondência, que a divulgou pela internet. Nela, insulta o repórter. Este reagiu protestando não contra as críticas ou os insultos, mas contra a divulgação da troca de mensagens entre ambos, que qualificou de antiética.
Até aí, normal: bate-bocas, com ou sem bons motivos, são freqüentes na profissão – ainda mais quando envolvem, como no caso, diferentes visões da mesma personagem. O grave é uma frase do repórter brasileiro enviada ao americano: "Você pode ficar certo de que não aparecerá mais nas páginas desta revista".
Trata-se de algo que sempre se comentou, de que muito se falou, mas que até agora não tinha confirmação formal (e, aliás, sempre foi oficialmente negada): a existência de uma "lista negra" em veículos de comunicação. Pior: quando se falava em "lista negra", sempre se pensava no comando supremo do veículo, ou da empresa. Nunca se pensou que um repórter, por melhor que fosse, por mais alto que estivesse na hierarquia da reportagem, pudesse incluir nomes na lista negra.
Este é um tema que vale a pena discutir, aqui no Observatório da Imprensa e em todas as instâncias jornalísticas. Seria interessantíssimo conhecer a opinião de Luiz Weis, cuja coluna neste Observatório tem sido preciosa, pela escolha de temas e pela análise de cada um deles. E, naturalmente, de Alberto Dines, que há muitos anos pensa jornalismo e já comandou grandes veículos [ver aqui uma pesquisa no Google].
Lista negra é o oposto do jornalismo; é a negação da imprensa livre. A opinião é livre, mas levar ao leitor "all the news that’s fit to print" é a obrigação de cada jornalista.
Parte da coluna de Carlos Brickman, no Observatório da Imprensa.
Um comentário:
LISTAS NEGRAS: Da discussão nasce a escuridão.
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