quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Tem início a complicada eleição dos EUA

O evento mais importante do ano de 2008 está para começar: são as eleições norte-americanas. A imprensa brasileira e a de todo o mundo começa a ensaiar suas primeiras matérias aqui e ali – e não seria culpa de nenhum dos leitores imaginar que já é mais ou menos certo que teremos uma disputa entre Hillary Clinton, pelo Partido Democrata, e Rudolph Giuliani, pelo Republicano.

Não tão rápido.

A esta altura do ano, em 2003, tanto a revista Time quanto a Newsweek publicaram em suas capas o retrato do então governador de Vermont, Howard Dean, que era tido certo como o indicado pelos democratas à presidência. Foi o senador John Kerry quem disputou a campanha. Em finais de 1991, o jovem governador do estado sulista do Arkansas, Bill Clinton, era um desconhecido que tinha de lidar com um escândalo sexual que o envolvia com uma moça um tanto vulgar chamada Gennifer Flowers. Em novembro e dezembro de 91, Paul Tsongas, senador por Massachusetts, era o favorito, no topo de todas as pesquisas. Mesmo nos EUA, hoje, muito eleitor politizado sequer lembra quem foi Tsongas.

Não quer dizer, de forma alguma, que as pesquisas não sirvam de bússola. A esta altura do jogo, em 1979, nem o muito melhor preparado ex-diretor da CIA George H. Bush conseguiria derrotar o ex-governador da Califórnia Ronald Reagan. Reagan esteve no topo das pesquisas do dia em que anunciou que concorreria àquele no qual pôs os pés na Casa Branca. Era de um carisma inimaginável.

As lições das eleições passadas tampouco servem para nos guiar nesta. As regras estão mudando – e rápido. Para compreender isto, é preciso antes entender o que faz dos EUA a democracia madura mais complexa em funcionamento no lado de cá do mundo. Lá, o sistema realmente é federativo. Cada um dos 50 estados tem poder de fato – e autonomia. Não há uma eleição nacional. O que acontece são 50 eleições estaduais simultâneas seguindo regras próprias. Mas antes de haver a eleição de fato acontecem as pré-eleições, nas quais os partidos Democrata e Republicano de cada estado decidem quem indicarão para a Convenção Nacional.

Não é tão complicado: o partido em cada estado escolhe seu candidato. Cada estado tem um peso, que varia de acordo com sua população, e determina o número de delegados que envia para a Convenção Nacional. Cada delegação vota perante os convencionais reunidos. Quem tiver mais de 50% dos delegados disputa a eleição nacional.

Na maioria dos estados, estas pré-eleições são de fato eleições: os eleitores preenchem uma cédula, depositam na urna – votam. Em cada lugar, o que define os eleitores aptos a votar nestas eleições primárias muda. Nuns cantos é preciso ser registrado – ou afiliado – ao partido; noutros, é possível votar tanto nas primárias de um partido quanto nas de outro. Nuns terceiros, escolhe-se em qual primária partidária votará, mas não carece afiliação.

Ainda há os estados em que o processo de decidir o candidato não se dá numa eleição primária e sim num caucus. Em cada micro-região, os cidadãos se organizam numa escola, numa prefeitura – na praça pública – e saem discutindo. Ao final, levantam a mão até que uma decisão seja alcançada. Cada grupo destes informa seu indicado ao partido central do estado, quem leva mais votos ganha os delegados. Sim: nos caucus, a democracia alcança sua decisão à moda grega.



Comentário: O título diz que é complicado, e de fato o assunto é bem complexo. Se aqui o texto parece longo, devo dizer que ele continua aonde foi publicado inicialmente, isto é, no blog do Pedro Dória.


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