VI O MUNDO:
Segundo os gigantes da agroindústria, tá tudo dominado. Os transgênicos - produzidos a partir de sementes geneticamente modificadas (GM) - aumentam a produção, reduzem o uso de pesticidas e vão acabar com a fome no mundo. Essa é a versão sustentada pelas grandes empresas do setor: Monsanto, Dupont, Syngenta, Groupe Limagrain, Land O'Lakes, KWS AG, Bayer Crop, Takii, Sakata, DLF-Trifolium. Elas venderam mais de 22 bilhões de dólares em sementes em 2006. Você acredita que elas colocam a sua saúde acima do próprio lucro? Você acredita que elas colocam o combate à fome acima do próprio lucro? E o meio ambiente?
Este é um assunto altamente complexo. Eu não entendo nada de agricultura. Sou curioso. Então fui ler o relatório completo do grupo Amigos da Terra, baseado aqui em Washington. A versão deles sobre o uso de transgênicos é influenciada pela oposição dos ambientalistas ao uso das sementes geneticamente modificadas.
De acordo com o relatório, o Brasil é o terceiro colocado no mundo em plantio de transgênicos. O país plantou 11,5 milhões de hectares de soja e algodão transgênicos em 2007, de um total de 64,2 milhões de hectares cultivados. Fica atrás dos Estados Unidos (54,6 de 118,6) e Argentina (18 de 32,3).
A lógica do negócio: as sementes produzem plantas resistentes à aplicação de herbicidas. O agricultor gasta menos tempo e combustível no combate às pragas e pode fazer mais com menos, compensando plenamente o custo maior das sementes.
O relatório afirma que, apesar das promessas milagrosas, as empresas de biotecnologia tiveram sucesso com dois produtos, que aumentaram a tolerância a herbicidas e resistência a insetos.
Isso resultou em um aumento de 20 vezes no uso de herbicidas nos Estados Unidos desde que o primeiro transgênico foi introdudizo no país, em 1995 - a soja que leva o nome de Roundup Ready, da Monsanto.
"Assim como bactéria desenvolve resistência ao uso de antibióticos, as ervas daninhas desenvolvem resistência aos produtos químicos criados para combatê-los", diz o relatório. Em outras palavras, em vez de eliminar as pragas o plantio de transgênicos tem resultando no surgimento e na disseminação de ervas daninhas resistentes. O que faz o agricultor em resposta? Aumenta cada vez mais o uso de herbicidas.
Segundo o relatório, a Monsanto, a DuPont-Pioneer, a Syngenta e a Bayer faturaram 9,4 bilhões de dólares em 2006 vendendo sementes, 41% do total do mercado. "Faz todo o sentido para as companhias produtoras de transgênicos que também produzem herbicidas criar sementes que promovam o uso de seus químicos", diz o relatório.
"A crescente concentração no fornecimento de sementes nas mãos de empresas gigantes de agroquímica e biotecnologia pode resultar numa agricultura químico-dependente, que promove os pesticidas, com todo o impacto negativo que isso pode ter para a saúde humana e o meio ambiente", afirma o relatório. O estudo diz que a concentração também provoca aumento no preço das sementes.
Nos anos 80, os Estados Unidos concederam a primeira patente para uma semente geneticamente modificada. Uma ação contra o patenteamento foi parar na Suprema Corte, que decidiu por 5 a 4 em favor da Monsanto. Quem escreveu a sentença? O juiz Clarence Thomas, ex-advogado da Monsanto. Com isso, a empresa pode processar os agricultores que usam parte da produção para estocar sementes e plantar no ano seguinte por "quebra de patente".
"É claro que os maiores beneficiários das plantas GM nos Estados Unidos foram as corporações que as produzem e vendem, em particular a Monsanto Corporation. O crescente controle da Monsanto sobre o suprimento de sementes, a agressiva investigação e litígio judicial contra agricultores e a impressionante capacidade da empresa de influenciar políticas do governo são os principais resultados da revolução dos transgênicos na agricultura americana. Essa revolução não resultou na melhoria da qualidade da comida, nem no aumento da sustentabilidade, mas na transformação da agricultura em uma indústria concentrada - em que cada vez menos empresas controlam fazendas e fazendeiros", diz o texto.
SOBRE O BRASIL
-- A soja tolerante a herbicidas representa 90% de todo o comércio de produtos geneticamente modificados na América do Sul - mais de 40% no Brasil, cerca de 90% no Paraguai e 100% na Argentina.
-- "Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos mostram que a soja convencional plantada no Brasil teve uma performance melhor que a Roundup Ready [da Monsanto] nos Estados Unidos e 13% melhor que a Roundup Ready plantada na Argentina".
-- Desde a adoção da soja GM no Brasil, em 2004, a colheita para a maioria dos agricultores nos próximos três anos foi "ruim" e a produtividade baixa, especialmente durante secas.
-- Os principais fatores de sucesso dos agricultores têm relação com clima e preço, não com o uso da soja GM.
-- A Embrapa identificou o surgimento de ervas daninhas mais resistentes especialmente no Rio Grande do Sul, onde quase 100% da soja é GM. Pela primeira vez, pesquisadores da empresa submeteram um artigo ao Journal of Environmental Sciences and Health dizendo que quatro espécies de ervas daninhas desenvolveram resistência a herbicidas e concluindo que "isso tem grande potencial de se tornar um problema".
-- De acordo com fontes oficiais do governo do Paraná, o alto custo de plantio e dos herbicidas e a baixa performance da soja GM estão revertendo a tendência em favor dos transgênicos. O secretário da Agricultura, Valter Bianchini, disse que a safra 2006/2007 foi de 53% de soja convencional e 43% transgênica, mas para 2007/2008 deve ser de 60% convencional e 40% transgênica.
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