Benvindos de volta ao mundo das cavernas. A não ser durante a ditadura militar, eu nunca havia visto a Brigada Militar, sem qualquer provocação, atacar pessoas que estavam reunidas em assembléia, discutindo o que fazer diante da proibição – injusta, ilegal e inconstitucional - de exercerem o seu direito inquestionável de irem até às portas do Palácio Piratini e dizerem que não gostam da sua atual inquilina, nem das suas políticas, nem do modo que, segundo seu ex-chefe da Casa Civil, seu governo trata o dinheiro público. Simples, legal e legítimo.
Meninos eu vi! Posso dizer, à la Joel Silveira, porque ainda tenho a memória da obstrução da garganta e da cegueira momentânea que o gás provoca. Apoiada por helicópteros, viaturas e camburões, a tropa de choque do valente coronel Mendes marchou, ombro a ombro, de dois lados, para cima dos manifestantes na frente do parque da Harmonia. Nem as mãos estendidas e os pedidos de calma das lideranças e dos deputados Dionilso Marcon e Raul Carrion contiveram a arremetida. A decisão já fôra tomada. Minutos antes, Mendes, o Bravo, dera uma entrevista no palco dos acontecimentos ao Polícia em Ação, onde descrevera ao repórter Paulão sua visão dos movimentos sociais como “formação de quadrilha” e “baderna”. Terminou a fala anunciando que iria liberar a área imediatamente.
E assim foi feito. À força de cassetetes, bombas de gás e disparos de balas de borracha, os manifestantes recuaram aos trambolhões, enquanto muitas mães arrastavam suas crianças pequenas pelos braços correndo em desespero em busca de abrigo pelo mesmo parque que a cidade – desrespeitando a denominação oficial e postiça que louva o chefe do clã do monopólio da comunicação – chama afetivamente de Harmonia, uma designação sarcástica neste 11 de junho. No céu, dois helicópteros moviam-se em círculos sobre as árvores, compondo a produção modesta porém esforçada desse Apocalipse Now guasca.
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