terça-feira, 4 de agosto de 2009

LIÇÕES DE HONDURAS

O golpe de estado que derrubou o presidente constitucional de Honduras tem analogias com o golpe de 1964 no Brasil. Tanto Zelaya como João Goulart eram bons homens, democratas, que ensaivam tímidas reformas a fim de tornar menos injustos os seus países. Nenhum dos dois punha em causa o capitalismo pois as suas pretensões eram modestas. Zelaya queria comprar petróleo mais barato através do ALBA, Goulart queria uma tímida Reforma Agrária (com indemnização pelas terras expropriadas) e uma lei que limitasse as remessas de lucros das transnacionais. Ambos foram derrubados por campanhas de acordo com o figurino da CIA, por militares doutrinados nos EUA, com o apoio activo das Embaixadas Americanas locais, financiadas por transnacionais que operavam nos seus países. Ambos eram homens ricos e não revolucionários. Nenhum dos dois entendia a lei da bicicleta (a estabilidade é dada pela velocidade do avanço). Queriam apenas dar pequenos passos. Ambos foram derrubados pela truculência ultramontana das classes dominantes locais, organizadas pelas embaixadas americanas em campanhas financiadas por transnacionais, tudo com a benção da alta hierarquia da igreja católica.
O novo golpe em Honduras, já sob a presidência Obama, encerra lições. A primeira é que o imperialismo continua na ofensiva (como se vê também em outros lados do mundo: Colômbia, Paquistão, Afeganistão, Iraque, etc). A segunda é que a máscara sorridente do novo presidente Obama não passa disso mesmo: de uma máscara – o imperialismo não mudou a sua natureza brutal. A terceira é que o presidente Obama está à margem dos mecanismos decisórios da política externa dos EUA, que estão a outros níveis (seria impensável que os gorilas de Honduras avançassem sem o sinal verde da Embaixada Americana). A quarta é que a reacção hesitante do presidente Zelaya, que após o golpe procurou um entendimento com o imperialismo aceitando a mediação proposta pela secretária de Estado Hillary Clinton, está fadada ao fracasso. A quinta é que o povo hondurenho mostra mais combatividade e disposição de luta do que Zelaya. A sexta é que, paradoxalmente, a insurreição nacional em Honduras pode definhar devido às vacilações do próprio Zelaya. A sétima é que a OEA é uma espécie de Ministério das Colónias dos Estados Unidos pois a pedido de Washington prestou-se a intervir militarmente no Haiti e agora em relação a Honduras nem sequer fala em semelhante hipótese.
O povo hondurenho precisa da solidariedade activa dos democratas de todo o mundo.


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