sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

América Latina: Evo Morales no fio da navalha

América Latina: Evo Morales no fio da navalha

Franz Chávez

La paz , 07/12/2007 (IPS) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, pretende convocar um referendo sobre a continuidade de seu governo, iniciado há 22 meses, e desafia os nove prefeitos (governadores de departamentos), cinco deles tenazes opositores, a fazerem o mesmo.



O anúncio de Morales, que interrompeu noticiários e transmissões de futebol na quarta-feira à noite, sacudiu o tabuleiro político boliviano. Nesse momento, três prefeitos se preparavam para regressar de Washington, após acusarem o presidente na Organização dos Estados Americanos por promover uma nova constituição apenas com apoio oficialista, bem como pela morte de três pessoas em choques entre manifestantes e policiais em Sucre, sede da Assembléia Constituinte, no dia 24 de novembro.



O silêncio, seguido de surpresa e incredulidade, dominaram a oposição após o anúncio do mandatário, enquanto se agravava uma greve de fome em Santa Cruz de la Sierra, com cerca de 150 pessoas jejuando, e nas de Trinidade e Tarija. Nessas cidades se concentram os grupos contrários à corrente indigenista encabeçada pelo presidente, a qual promove a recuperação dos recursos naturais, como o petróleo e o abundante gás natural. O mecanismo proposto por Morales “é uma forma democrática e pacífica de resolver um conflito”, disse o analista Carlos Cordero ao avaliar o difícil momento pelo qual passa o governo, surgido do movimento de plantadores de coca e apoiado por setores camponeses e classes médias urbanas.



Com a recusa de cinco prefeitos em dialogar e a pressão para obrigar Morales a deixar em suspenso a constituição aprovada – com os opositores membros da Assembléia Constituinte ausentes – no dia 24 de novembro, o presidente se antecipou à estratégia de descrédito e desgaste de sua popularidade por parte de seus adversários. O texto definitivo, “em detalhe”, deve ser examinado por essa assembléia antes do próximo dia 14, data-limite fixada pelo Congresso. Mas, os incidentes em Sucre obrigam a buscar uma nova sede para as deliberações, que poderia ser uma localidade do Chapare, onde o governo conta com amplo apoio, no departamento de Cochabamba.



Enquanto se teme um choque de conseqüências imprevisíveis em Santa Cruz de la Sierra entre grupos conservadores e setores sindicais e populares que apóiam Morales, o presidente aposta em ganhar a opinião de uma maioria da população sem militância partidária que, até agora, observa os acontecimentos com cautela. O governo, que tem o apoio internacional dos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Fidel Castro, de Cuba, propõe uma revolução democrática e cultural. O objetivo de sua reforma constitucional é recuperar para os povos indígenas direitos e terras, preservar para o Estado boliviano riquezas naturais do país e garantir a participação popular nas decisões governamentais.

O texto IPS Brasil, e continua . Mas foi visto na Periferia do Império.

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