A troca de mensagens pública entre o repórter Jon Lee Anderson e o editor de Internacional de Veja, Diogo Schelp é um bocado importante – e não pelo que ela diz a respeito de Schelp; pelo que diz sobre Veja.
A argumentação de Schelp em sua defesa é ruim. Fonte não deve qualquer sigilo a repórter – a nossa é uma profissão que deve operar às claras. O sistema de filtro de mensagens da Abril é de fato muito rigoroso e dá problema com mensagens perdidas a toda hora. Mas este é um problema que a Abril deve resolver com sua equipe técnica. Numa empresa jornalística, é um problema sério. Usar o anti-spam como desculpa para não ter contatado uma fonte é piada.
Por fim, ele reconheceu publicamente que Veja tem uma lista negra: quem cai lá não sai na revista. Não é o único órgão de comunicação grande que tem uma lista dessas, mas há um motivo pelo qual ninguém assume sua existência. É que não pode ter. Noticia-se, sempre, o que é notícia; e procura-se, sempre, quem melhor pode informar a respeito de um assunto. Quando uma publicação reconhece que tem uma lista negra, está dizendo que não tem pudores de usar sua influência para fazer com que alguém suma do mapa da relevância, independentemente de ser notícia ou não. (Não que, neste caso específico, Anderson vá sentir falta.)
Mas não era Schelp que deveria responder pela crítica e é injusto que a revista o tenha exposto desta forma. Nenhum jovem jornalista deveria ser obrigado a debater com um repórter de primeira linha do jornalismo mundial. É um debate perdido de início e, portanto, uma exposição cruel.
A reportagem sobre Che não saiu como saiu porque esta é a qualidade de trabalho que Schelp pode apresentar. Quem o conhece diz que é bom repórter, que jamais tem preguiça de apurar. A reportagem saiu assim porque assim é a linha editorial de Veja: a tese já está definida antes que qualquer repórter se lance à apuração. As fontes consultadas são aquelas que confirmarão a tese. Se alguém disser o contrário, que seja ignorado. Não é a curiosidade, a tentativa de compreender o mundo, que move a pauta de Veja. O que lhe move é a vontade de dizer o que seus leitores devem pensar.
O texto, bem interessante, continua no Weblog do Pedro Dória.
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