terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O Jardim do Vizinho

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Quando morei na Argentina, realizei entrevistas com pessoas que haviam ocupado cargos de ministros, embaixadores e outras altas posições numa série de governos do país vizinho, em particular o período de Carlos Menem (1989-1999). Todos me diziam a mesma coisa: a de que o Brasil estava no caminho de se transformar numa grande potência, porque havia feito as escolhas corretas e perseguido políticas públicas coerentes, em particular nas áreas do desenvolvimento econômico e da política externa. Em contraste, criticavam a Argentina por sua extrema instabilidade e pelas constantes mudanças de rumo.

A comparação não é novidade para os especialistas na comparação entre os dois países. A quem se interessa pelo assunto, recomendo o soberbo livro "Ideas and Institutions: developmentalism in Brazil and Argentina", da minha querida mestra Katryn Sikkink, que aliás conheci em Buenos Aires. O início é uma obra-prima: a autora comenta a visita que fez ao Memorial JK em Brasília (que ela compara ao túmulo de Napoleão) com sua experiência de pesquisa no modesto centro de estudos dedicado a Arturo Frondizi. O ex-presidente argentino entre 1958-1962 teve programa muito semelhante ao nosso Juscelino, mas foi derrubado por um golpe militar ao qual se seguiram anos de turbulência e crise.

O que deu certo no Brasil? Basicamente, aqui houve desde a Revolução de 1930 um esforço consciente em criar uma elite no funcionalismo público dedicada aos temas econômicos mais importantes. Começou de maneira hesitante com o DASP e depois resultou na criação da Petrobras, do BNDES, e no fortalecimento do processo de treinamento nas Forças Armadas, no Ministério da Fazenda e no Itamaraty. Esse corpo permanente de tecnocratas manteve um alto grau de continuidade, mesmo nas transições (sempre muito negociadas) entre democracias e ditadura.

No fim dos anos 1950 o PIB do Brasil era apenas levemente superior ao da Argentina. Hoje, é cerca de quatro vezes maior. O crescimento da economia brasileira foi acelerado e constante, enquanto a Argentina seguiu um ciclo instável de stop-and-go, muito motivado por suas repetidas crises políticas. Afinal, foram 6 golpes militares entre 1930 e 1976, fora diversas insurreições mal-sucedidadas, guerrilhas, a guerra das Malvinas e a quase-guerra com o Chile. Não há prosperidade que resista. Alguns falam do "milagre do sudesenvolvimento argentino" e a maioria trata com nostalgia da era de ouro do início do século XX, quando a renda per capita do país era mais alta do que a da Espanha ou a da Itália. O célebre economista sueco Gunnar Myrdal chegou a dizer que só existiam quatro tipos de países: desenvolvidos, em desenvolvimento, Japão e Argentina.

Este é um trecho. O texto completo em Todos os Fogos o Fogo.
E a propósito, o texto do La Nación, pode ser encontrado aqui.

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