"Ao maneirar nos vocábulos, distorcem-se os acontecimentos; a Folha deveria refletir e rejeitar o embrulho elegante de eufemismos O "NEW York Times", um dos melhores jornais do planeta, costuma perpetrar o eufemismo "técnicas severas de interrogatório" ao descrever a tortura de militantes e terroristas islâmicos pela Agência Central de Inteligência.
Nessa classificação se inscrevem as "simulações de afogamento" dos presos, executadas por funcionários da CIA. Não se trata de simulação ou severidade, mas de tortura.
A Folha republica textos do diário nova-iorquino, e as traduções não podem ser infiéis ao original. Deveria refletir, contudo, sobre a reprodução de relatos que adulteram fatos ao não denominá-los pelo nome certo. Pior é incorporar a impropriedade. No sábado retrasado, o jornal assumiu como sua, na primeira página, a formulação "técnicas severas de interrogatório". Associou-se ao desatino alheio.
Assim como ao nomear uma fração das tropas dos EUA que lutam no Iraque como "soldados privados". Em bom e velho português, eles são "mercenários", e não "agentes particulares de segurança", variante que igualmente já saiu.
O jornal sabe disso. Por vezes, alterna as expressões, privilegiando "soldados privados", carimbo mais simpático do que escancarar a condição dos que lutam por dinheiro. Noutras, só se lê o eufemismo.
Ao maneirar nos vocábulos, distorcem-se os acontecimentos. É direito da polícia chamar armas suas de "bombas de efeito moral". Mas a Folha deveria rejeitar o embrulho elegante -há efeitos físicos.
Acumulam-se exemplos. Um deles: insiste-se no termo "parceria" nas referências à negociata entre MSI e Corinthians. Palavras legitimam e deslegitimam. Contam verdades e as traem. Como o antigo compositor cearense dizia, "palavras são navalhas". Também no jornalismo."
Via Na Periferia do Império.
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