Ou, de como um fundo de tela de computador e uma notícia de jornal acabam por me levar até Brueghel.
No papel de parede do meu pc tem um Brueghel. É uma reprodução de “O Triunfo da Morte”. O fundo de tela do computador é um revelador de almas. Um coloca a foto dos filhos; outro, aquele pôr-do-sol magnífico das férias do último ano em Itaparica; um terceiro prefere a Gisele Bündchen coberta apenas por alguns lençóis, e por aí vai...Devo ser um pessimista retinto por escolher uma imagem tão terrível, mas, como disse, o fundo de tela do computador revela a têmpera do dono. Escolhi este por dois motivos: Brueghel é um dos meus pintores prediletos e “O Triunfo da Morte” é muito adequado aos dias de hoje. Sendo justo, é adequado para qualquer período histórico do ser humano.(...)
Resolvi escrever sobre ele por causa da conjunção de dois fatores. Um Brueghel é a tela de fundo do meu pc, vejo-a todos os dias e ela acaba funcionando para mim exatamente como memento mori, isto é, uma lembrança de que sou pó e ao pó retornarei. Isso foi um fator.
Outro foi ler a notícia de que 257 crianças morreram por causa da ofensiva israelense. 257 crianças morreram, 1080 ficaram feridas, e ainda 760 palestinos e 10 soldados israelenses perderam a vida segundo a ONU, esta prestigiadíssima, poderosa e útil instituição.
Pode, portanto, haver algo mais atual e relevante do que o “Triunfo da Morte” de Brueghel? Só se for a “Parábola dos Cegos”, do mesmo Brueghel, que descreve à perfeição o caminhar do ser humano no século XXI: um cego guiando outros cegos e todos rumando, céleres, em direção ao abismo e à catástrofe.
Apesar de bastante longo, o que vai acima é apenas um excerto. O texto completo, de Marcos Schmidt, está em O Pensador Selvagem. A cópia da imagem veio de um lugar estranho chamado "LaboratóriO_rquetra".
Um comentário:
Talvez o quadro "Fuzilamentos de 8 de maio de 1808", de Goya, pudesse também complementar a obra de Brueghel.
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