Brasil
André Malraux, glória da França, veio ao Brasil como ministro da Cultura do presidente De Gaulle. Foi recebido por Juscelino presidente, em Brasília, que chamou de "Capital da Esperança", e de volta, no Rio, fez conferência na Associação Brasileira de Imprensa.
Na mesa, Oscar Niemeyer, Austregésilo de Athayde, da Academia Brasileira de Letras, Danton Jobim, Prudente de Morais, neto. O auditório quente, abafado, enfumaçado, lotado de políticos, jornalistas, escritores.
A noite espichava e Malraux, suado, avermelhado, com seu francês rápido e côncavo, contava aventuras e lutas, a libertação da China, a resistência da Espanha, o "maquis" da França, as esperanças do homem.
Diante de Malraux, intocado, um copo dágua. Lá de trás, levanta-se um senhor alto, moreno, cabelos grisalhos, terno branco, gravata vermelha e sai andando em direção à mesa. Ploc, ploc, olhar firme, erecto. Como um general. Malraux pára, fica olhando. O auditório não entende, sussurra. E o homem vai em frente, passos fortes, cabeça levantada.
Chega perto da mesa, estira o braço, pega o copo dágua do conferencista, bebe gole a gole, põe o copo no lugar, volta, ploc, ploc, senta-se. Malraux apenas sorriu e continuou. Era o deputado federal Fernando Santana, comunista do PTB da Bahia, que na véspera tinha sido eleito, pelos jornalistas de Brasília, o melhor parlamentar do ano.
Na saída, os amigos escandalizados:
- Mas, Fernando você bebeu a água do orador?
- Água é para quem tem sede. Água não tem propriedade privada.
França
Domingo, os franceses beberam a água de Sarkozy.
(Sebastião Nery, na Tribuna da Imprensa de ontem)
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