Camila Guzmán é filha do cineasta chileno Patrício Guzmán ("A Batalha do Chile", "Salvador Allende") e estreou como diretora com um documentário autobiográfico muito bonito: "Cortina de Açúcar". Ela conta a história de sua infância e adolescência em Cuba, de sua saída da ilha nos anos 90 e de seu reencontro com os amigos de juventude, que vivem num país muito diferente após década e meia de profunda crise econômica. Assisti ao filme na noite de ontem, na excelente mostra de documentários latino-americanos do Festival de Cinema do Rio de Janeiro.
Guzmán pai foi muito envolvido com o governo Allende e teve que se exilar do Chile após o golpe de Pinochet, em 1973. Foi para Cuba com a mulher e duas filhas pequenas - a futura cineasta tinha apenas dois anos. O casamento terminou pouco depois e Guzmán trocou a ilha pela Espanha. Mas as crianças tiveram uma infância feliz, no que Camila descreve como "o período de ouro da Revolução Cubana". É curioso, porque a maioria dos historiadores classifica aquela época de outra maneira, como o tempo do "Quinqüênio Cinza", das perseguições a artistas, escritores, homossexuais e do fracasso em aumentar a colheita de cana ao ponto em que fosse possível industrializar a ilha com esses recursos.
No entanto, Camila - e os amigos que entrevista no filme - falam daqueles anos com tranqüilidade e alegria, lembrando das brincadeiras de escola, do excelente nível educacional, dos serviços sociais fornecidos pelo Estado e do sentimento de pertencimento, de fazer parte de um projeto de construção de uma sociedade. Há apenas algumas reclamações ao excesso de burocracia e à chatice dos rituais de autocrítica, mas no tom bem-humorado de quem recorda um professor rabugento, mas querido.
Texto completo no blog Todos os Fogos o Fogo.
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