Gustavo Petro: "Colômbia repete fracasso dos EUA"
O senhor acredita que a política de segurança do governo, centrada nas Farc e no narcotráfico, está contribuindo para a internacionalização do conflito? Existe um problema estratégico no Plano Colômbia?Claro. O Plano Colômbia é uma ajuda estrangeira para a guerra, que fracassou por ignorar que a maior fortaleza do narcotráfico no país, além de seu dinheiro, é sua relação com o poder político e o Estado colombiano. No último ano, porém, houve uma mudança nesse cenário, com o apoio de uma maioria democrata, ainda que com timidez, para aumentar a ajuda à justiça e à luta contra a impunidade na Colômbia - caminho que eu acredito que é muito mais eficaz como política anti-drogas, ao contrário do financiamento bélico. Falando da droga especificamente, é um projeto que se moveu ao redor da força militar e da fumigação da folha de coca. E hoje o preço da cocaína disparou em Nova Iorque, comparado com o de 2002 - quando o Plano Colômbia estava em seu auge. O que temos é um incremento da oferta de cocaína nos Estados Unidos, logo essa é uma política que fracassou, então temos que construir outra.
Como o senhor vê a situação das fronteiras da Colômbia não só com Equador e Venezuela, mas também com o Brasil, sobre a qual se fala pouco?
O mesmo Plano Colômbia, construído como fumigação armada, vem empurrando os cultivos de folha de coca para as fronteiras. E esses vão rio abaixo, penetrando a selva amazônica. Eu acredito que nesse momento já penetraram territórios amazônicos venezuelanos, brasileiros e equatorianos onde, em realidade, já estavam antes, mas se incrementaram. É um enorme perigo para a selva e, além disso, produz uma desestabilização das fronteiras. Por isso é que a luta anti-narcóticos tem que mudar e tem que ser hoje, fundamentalmente, assunto de um eixo sul-americano. E em relação às Farc, o Exército colombiano, mesmo sendo o maior da América do Sul, não consegue controlar o deslocamento interno da guerrilha. Menos ainda se pode pedir que outros Exércitos, menos fortes e com outras prioridades, controlem seus movimentos para fora do país. As Farc sabem disso e o utilizam como saída de retaguarda.
O senhor é a favor da proposta de Lula de criar de um Conselho Sul-Americano de Defesa?
Completamente. É preciso começar a construir com os demais países sul-americanos instituições e processos comuns ao redor de interesses comuns, que são muitíssimos. Mais ainda neste tema que tem a ver com conflito armado, narcotráfico e o papel desestabilizador que produzem no subcontinente. Mas há outros aspectos que afetam a segurança da América do Sul: o narcotráfico é um, o aquecimento global, que pode produzir a queimada da selva amazônica e sua conversão em deserto rapidamente, é outro. Não há nenhuma política comum ao redor deste que é um tema de impacto direto sobre as sociedades sul-americanas e o mundo. Além disso, como asseguramos a biodiversidade da região? Como equilibramos a questão local de energia, com países que têm recursos tão escassos, enquanto outros têm abundância de recursos? Enfim, há vários temas que permitiriam uma discussão coletiva dentro de um Conselho Sul-Americano de Defesa. A Colômbia tem que entrar para a discussão dessa política internacional.
O texto acima é parte da entrevista do senador colombiano Gustavo Petro, do Pólo Democrático, partido de oposição ao governo Uribe ao Terra Magazine. A entrevista completa, onde ele ainda fala da recente crise com o Equador, o envolvimento do Brasil na crise, os paramilitares colombiano, e outros assunto pode ser conferido no Terra Magazine. Esta entrevista termina com a seguinte frase:
Existem mais equilíbrios na Venezuela do que na Colômbia. A maior parte dos meios de comunicação que vêem ou escutam os venezuelanos é de oposição, e eles estão aí. Na Colômbia, você não verá nem escutará meios de comunicação que sejam oposição.
Onde o senador afirma que o quadro político na Venezuela é mais equilibrado do que na Colômbia, pois na Venezuela a grande mídia quase toda é contra Chávez, enquanto na Colômbia ela é quase toda pró-Uribe, que, dizem quer emendar a constituição colombiana novamente para tentar uma nova reeleição. Alguém por aí ouviu protestos contra um terceiro mandato de Uribe?
Entrevista completa, como já foi dito, no Terra Magazine
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