Daniela Fernandes
De Paris para a BBC Brasil
A ampla vitória da esquerda francesa nas eleições municipais do domingo é um revés pessoal para o presidente Nicolas Sarkozy e um voto de sanção contra seu governo, escrevem os jornais franceses nesta segunda-feira.
Em linhas gerais, a imprensa francesa avalia que a "onda rosa" - como a maioria dos jornais chama a vitória do Partido Socialista em diversas partes do país - é uma "advertência" para o governo do presidente Sarkozy.
Para o jornal Le Parisien, a onda da esquerda é "violenta", uma espécie de tsunami, e o presidente Sarkozy "recebeu um tapa na cara".
O diário Libération escreve que o "charme de Sarkozy" se dissolveu apenas dez meses depois de sua eleição.
A esquerda francesa passa a governar sete das dez maiores cidades do país, como Paris, Lyon, Estrasburgo e Toulouse, que estava nas mãos da direita há 37 anos.
A oposição de esquerda conquistou ainda 42 cidades com mais de 30 mil habitantes, como Reims, Amiens e Saint-Etienne, e, mais simbolicamente, Périgueux, onde o ministro da Educação, Xavier Bertrand, do partido de Sarkozy, o UMP, foi derrotado.
Metz também passou a ter o primeiro prefeito socialista desde 1848.
Como consolação, o partido do presidente Sarkozy, o UMP, conseguiu manter Marselha, a segunda maior cidade da França, assim como Bordeaux e Nice.
Além disso, 18 dos 22 ministros e secretários de Estado que disputaram as eleições municipais foram eleitos. Na França é possível acumular cargos eletivos.
Em função dos resultados do domingo, o presidente Sarkozy deve anunciar em breve uma mini-reforma ministerial.
'Sanções'
A socialista Ségolène Royal, ex-candidata à Presidência derrotada por Sarkozy, declarou que os resultados das eleições municipais representam "uma sanção contra a hiperpersonalização do poder", em referência à exposição constante do presidente na mídia, incluindo em relação à sua vida pessoal.
Em queda livre nas pesquisas de opinião, que lhe conferem uma popularidade de apenas cerca de 37%, Sarkozy vem sendo criticado por não ter agido para elevar o poder de compra dos franceses e por expor fortemente na mídia sua vida pessoal, incluindo divórcio e casamento.
O primeiro-ministro, François Fillon, preferiu declarar que "é melhor não tirar conclusões nacionais de uma votação local", mesmo porque o baixo índice de participação, de cerca de 65% - um dos mais baixos nas últimas décadas - não permite tirar lições dos resultados.
Mas o ex-primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, também do partido UMP de Sarkozy, declarou que o governo "está muito à direita e deveria se abrir para o centro". Para ele, Sarkozy deve "corrigir a mira" e "modificar o discurso político" em relação a alguns temas, como o emprego.
Em editorial, o jornal Le Figaro, considerado como de direita, escreve que o governo deve tirar do "resultado medíocre" dessas eleições a conclusão de que é necessário "acelerar o ritmo das reformas e dar à função presidencial a solenidade que lhe cabe".
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